Ganhando o Mundo: 50 alunos do PR contam os dias para embarque aos EUA
Por meio do programa Ganhando o Mundo Agrícola, iniciativa do Governo do Estado, 50 alunos embarcam no próximo dia 16 para o Iowa
Publicado: 11/08/2025, 08:39

Lidar com a ansiedade – tanto a própria quanto a dos pais –, dar uma última polida nos conhecimentos da língua inglesa, arrumar uma bagagem bem recheada para dar conta de quatro meses de viagem e acertar os derradeiros detalhes na escola, local em que passam a maior parte da semana. Essa tem sido a rotina vivida pelos 50 alunos de escolas estaduais que embarcam no próximo dia 16 para o Iowa, onde participarão de um intercâmbio especial nos Estados Unidos. Esse é o primeiro grupo a passar pela experiência do Ganhando o Mundo Agrícola.
A diferença dessa iniciativa em relação ao Ganhando o Mundo tradicional é o público-alvo e o foco das atividades no Exterior. Os selecionados são estudantes da rede pública dos cursos técnicos Agrícola, Florestal, em Operação de Máquinas Florestais, em Agropecuária e Agronegócio. Na estado norte-americano, esses jovens terão a oportunidade de aprimorar o idioma estrangeiro, mas também receberão aulas especiais de Agronegócio e Empreendedorismo, contribuindo com sua preparação pessoal e profissional.
Gustavo Oliveira de Santi, que completou 17 anos na semana passada, é um dos adolescentes que vão embarcar nessa aventura. Uma experiência para a qual vem se preparando há quase três anos, quando soube da existência do intercâmbio. “Eu estava na 8ª série, já tinha boas notas, mas passei a me esforçar ainda mais para poder fazer parte do Ganhando o Mundo quando pudesse me inscrever”, contou o garoto, que é natural de Janiópolis, mora em Moreira Sales e estuda no Centro Estadual Profissional de Educação Profissional Agrícola de Campo Mourão. Ele está no 2º ano do curso técnico em Agropecuária.
Mesmo tendo planejado esse momento há tanto tempo, ele admite que o nervosismo começou nas semanas que antecedem o embarque. “A ansiedade está lá em cima, o coração está a mil”, disse, contando em seguida o que tem feito para controlar esses sentimentos. “Eu gosto muito de correr. Faço isso depois da aula e também vou à academia”, resumiu ele, que já andou pesquisando o local que chamará de casa nos próximos meses: Cedar Falls. “É uma cidade grande. Quero conhecer os parques, as praças, tem alguns lugares muito bacanas”.
Além das aulas em sala, durante os quatro meses de intercâmbio os jovens paranaenses participarão de dinâmicas, workshops e visitas a fazendas, indústrias e empresas do agro. Para dar mais segurança, conforto e praticidade para a realização dessas atividades, ficarão hospedados no campus da University of Northern Iowa, localizado em Cedar Falls.
“Quando soubemos que íamos para uma cidade agrícola, ficamos animados. É uma cidade com muitas partes rurais, com celeiros gigantes. E me chamou a atenção o museu da John Deer [Museu de Tratores e Motores]”, confidenciou Ana Julia Nunes Woruby, de 16 anos. Natural de Prudentópolis, ela faz o curso de técnico em Florestas no Centro Estadual Florestal de Educação Profissional Presidente Costa e Silva, em Irati.
“A gente que é do interior, que trabalha na lavoura, não tem muita possibilidade de ir pra fora, é muito caro. Então, essa iniciativa é importante. Estou muito ansiosa e nervosa. Primeiro por conhecer novas pessoas, de uma cultura totalmente diferente da nossa, e principalmente pela língua. Até conseguir falar inglês com naturalidade, acho que vou travar bastante ainda”, disse ela, que tem que lidar com os apelos da irmã de 11 anos para não ir. “Ela diz que vai sentir muito a minha falta”.
“Eu estou tentando passar mais tempo com a minha família, fazendo coisas com eles, passeando ou mesmo com alguma atividade em casa. Mas também tenho assistido muitas séries em inglês e lendo livros”, relatou Ana Julia, sobre a receita para segurar a ansiedade, que também já é compartilhada pela mãe, e ao mesmo tempo se preparar para aguentar a saudade.
Um cenário semelhante ao que se vê na casa da Julia Medeiros de Lara, de 16 anos, estudante de técnico em Agropecuária. “Meus pais estão bem mais ansiosos do que eu. No começo até ficaram com receio, mas sempre me incentivaram a estudar e sabem que não dá para deixar essa oportunidade passar”, contou a aluna do Centro Estadual de Educação Profissional Newton Freire Maia, de Pinhais.
Em meio às aulas de gestão rural, administração de fazenda, aulas práticas de agropecuária, a jovem, natural de Campina Grande do Sul, não esconde a preferência em lidar com hortas e plantas. E nem a satisfação por realizar um desejo antigo nos Estados Unidos. “Sempre sonhei com um intercâmbio, conhecer uma cultura nova. E, principalmente, quero melhorar meu inglês. Sempre quis aprender outros idiomas”, disse.
Apesar do apreço pelo mundo do campo e pela terra, são estruturas bem urbanas que chamaram a atenção dela ao procurar informações de Cedar Falls na internet. “Achei a cidade muito linda. Parece pequena, mas aconchegante. Eu vou gostar de ir aos muitos cafés e bibliotecas que tem por lá”, destacou, já fazendo planos para o tempo livre.
No que depender de outro dos intercambistas, porém, os holofotes vão mesmo ficar na parte rural da cidade do Centro-Oeste norte-americano. João Henrique Schneider, de 16 anos, tem curiosidade sobre a arquitetura local, em ver se as casas de lá têm ou não cerca, mas a expectativa maior está no campo.
Estudante do curso de técnico agrícola no Centro Estadual de Educação Profissional Agrícola Augusto Ribas, em Ponta Grossa, ele quer conhecer de perto as fazendas e como funcionam as plantações do outro lado do continente. Sem esquecer dos bichos. “Minha maior curiosidade, pensando no meu curso, eu acho que é na parte dos cuidados dos animais”, falou, pronto para fazer comparações entre os modos de atuação nas duas regiões.
João, que já vem comprando aos poucos os suprimentos para a bagagem, confessou estar sentindo um pouco o nervosismo bater. Estaria mais preocupado com isso, e com a empreitada internacional, se não fosse um detalhe que foge completamente ao controle dele. “Tenho passado o dia inteiro na escola, estudando. Ainda por cima porque estamos no período de provas. Não dá tempo de pensar na viagem”, explicou.
Claro que em casa é impossível esquecer o evento que está por vir. E embora a conversa séria com os pais – segundo ele, ansiosos e um tanto preocupados – fique para mais perto do dia D, João já tem ouvido conselhos importantes. Por enquanto, gravou dois, que talvez estejam na lista dos pais de todos os 50 alunos. “Me disseram que era para fazer imersão total no inglês e para não fazer muita zona por lá”.
Estar fora de casa não é exatamente novidade para Vinicius Stukowski Camargo, de 17 anos, que estuda técnico em Agropecuária no Centro Estadual de Educação Profissional Agrícola de São Mateus do Sul. O que vai mudar, e muito, é a distância do lar. Atualmente, de segunda a sexta-feira, ele permanece na escola, indo visitar a família, na zona rural de São João do Triunfo, nos fins de semana. Trajeto que pode ser vencido de carro em menos de meia hora. “Nunca viajei de avião. O mais longe que fui foi para Curitiba. De ônibus”, contou, rindo, sobre o novo capítulo de sua história. “É uma emoção grande. O coração está batendo cada vez mais forte”, falou.
Para tentar compensar os milhares de quilômetros de distância, ele aposta em uma estratégia simples. “Comprei uma bandeira do Brasil para todos que eu amo assinarem e levar comigo”, disse o garoto, que vai ter a timidez como desafio particular nos Estados Unidos. Um obstáculo tranquilo para quem sabe bem o que quer. Esforçado nos estudos, leva para casa os ensinamentos e põe a mão na terra para ajudar os pais a cuidar da pequena horta da família. “A agricultura é o meu lugar”, atestou, ciente de que vai poder trazer muito mais para casa na próxima “visita”.
Informações: AEN