Coluna MSN: África/Brasil

Estou em Durban, África do Sul, em viagem por universidades públicas. No hotel, quando chegamos, o porteiro Jarbes Masanja, que é do Congo e morou em Moçambique, se torna instantaneamente nosso amigo. Ele fala dois idiomas africanos e dois europeus, e é de uma educação muito grande. Como passamos o dia todo na Universidade de Kwazulu-Natal e na Universidade Tecnológica de Durban, Jarbes nos recebeu com alegria no início da noite:

- Pensei que minha família brasileira tivesse ido embora.

Esta receptividade acontece em todos os lugares, fortalecida por um momento em que está acontecendo a reunião dos BRICS, com a presença do Presidente Lula – não, nossa missão não faz parte desta agenda.

Além de pessoas dos demais países africanos, há muitos indianos aqui. Durban está ligada à biografia de Mahatma Gandhi que, no início de sua carreira como advogado, nesta cidade, resolveu usar as vestimentas tradicionais, em defesa do povo africano. Na Old Court House, hoje um museu, ele foi barrado por estar com turbante. A partir deste episódio, assumiu sua trajetória de ativista. Vestir-se de forma étnica era uma atitude política, estopim de seu movimento de desobediência pacífica.

Tanto tempo depois, nas universidades, nos restaurantes caros, nas empresas, há uma hegemonia da comunidade negra. Participamos de palestras, fomos recebidos por autoridades e dividimos mesas em restaurantes em que éramos os únicos brancos.

Uma amiga olha o pátio da universidade e diz, encantada:

- Veja, professores, alunos e funcionários são todos negros.

Aqui nos sentimos completamente integrados, falando de dois grandes países em desenvolvimento, mas com muitos problemas em comum (desemprego, pobreza, meio ambiente, etc.), países que buscam uma outra alternativa social, mais solidária. Exemplo desta união. A variante Beta do Sars-Cov-2 foi descoberta pelo pesquisador brasileiro Tulio Oliveira, da Universidade de Kwazulu-Natal.

Como diz Jarbes, somos aqui brasileiros da grande família africana. Um vínculo que temos que cultivar, amorosamente.

O autor é escritor e reitor da Universidade Estadual de Ponta Grossa. No Instagram: @sanchesnetomiguel; no Facebook: https://pt-br.facebook.com/miguelsanchesneto/; no Twitter: @miguelsanchesnt.