Coluna MSN: Em defesa da docência

Em 36 anos de magistério, participei de vários movimentos pelo reajuste salarial dos professores, sendo o mais traumático deles o da greve de 1988, quando fomos recebidos com bombas e cavalaria no Palácio Iguaçu, e mesmo assim ocupamos a Assembleia Legislativa, onde dormi por algumas noites. Recebíamos as refeições pelas grades que cercam a ALEP, sem deixar a trincheira em que combatíamos.

Uma única vez participei de greve como aluno, durante meu doutorado na Unicamp, em que tudo que fiz foi voltar para Ponta Grossa, onde estava minha família. O engajamento é uma coisa muito difícil, pois a tendência é o esvaziamento dos espaços didáticos e a dedicação a outras tarefas que sempre nos convocam. E toda greve é feita disso também; e de tantas outras coisas.

Como os pronunciamentos em rede social, que podem ser um instrumento de pressão, embora sirvam principalmente para desmobilizar as pessoas, isolá-las em suas residências com a falsa sensação de ubiquidade. Enquanto isso, os locais a serem ocupados permanecem vazios, dando antes a sensação de abandono do que de protesto.

Greve neste momento conta ainda com uma dificuldade adicional. Estamos saindo de uma pandemia, com uma sucessão de incertezas não de todo superadas, o que pode afastar muitos professores de uma causa legítima.

O que se reivindica nestas paralisações não é apenas salário, mas o respeito por meio de uma melhoria salarial, para que esta carreira possa atrair mais gente que queira permanecer nela. Para além dos chavões, poucos fora do magistério estão convencidos de que a educação deva ser central no Brasil.

Em outro papel hoje, como reitor, meu dever é esgotar o diálogo com o governo, que ainda não se pronunciou sobre uma proposta de carreira recentemente apresentada pela Apiesp (Associação Paranaense das Instituições de Ensino Superior Público) e que continua em análise.

É neste espaço de negociação que continuarei atuando.

O autor é escritor e reitor da Universidade Estadual de Ponta Grossa. No Instagram: @sanchesnetomiguel; no Facebook: https://pt-br.facebook.com/miguelsanchesneto/; no Twitter: @miguelsanchesnt