Covas são abertas em SP após aumento de mortes por Covid
A imagem é do cemitério da Vila Formosa, o maior da América Latina
Publicado: 02/04/2020, 18:40
A imagem é do cemitério da Vila Formosa, o maior da América Latina
Centenas de covas abertas à espera dos mortos pela covid-19. A imagem chocante que grita na capa do Washington Post, um dos principais jornais do mundo, mostra como o cemitério da Vila Formosa, o maior da América Latina, se prepara para o pico da pandemia de coronavírus no Brasil.
As imagens são da agência France Press e escancaram um dos lados mais cruéis da crise atual: os enterros feitos a toque de caixa, sem tempo para despedidas. Segundo a AFP, desde o início da pandemia de coronavírus o número de enterros no cemitério da Vila Formosa aumentou 30%. Muitos destes casos não entraram nas estatísticas oficiais de mortos pela covid-19.
"Aqui enterramos cerca de 45 pessoas por dia, mas na última semana foram de 12 a 15 a mais. É muito pior do que vemos nas notícias", disse à AFP um coveiro que, em um lote do Vila Formosa I, cavava covas em fileiras para serem utilizadas no dia seguinte.
Prevendo o aumento da demanda, a prefeitura contratou uma empresa para reforçar com 220 funcionários temporários os 22 cemitérios da rede municipal, que foram obrigados a cortar 60% do seu quadro de 257 coveiros por pertencer a grupos de risco.
Quatro enterros em 30 minutos
Na tarde do último 31 de março, os caixões chegavam com tanta rapidez que os sepultadores tiveram que pedir alguns minutos para terminar com um dos enterros que já ocorria, antes de começar o seguinte. Sob um sol forte e um céu limpo, quatro enterros ocorrem em um intervalo de meia hora em um único lote do cemitério: três casos suspeitos de covid-19 e um confirmado.
"Minha avó estava com os sintomas e fez o exame, mas o resultado demorará mais duas semanas (para sair)", disse Ricardo Santos, que velou de forma rápida e com poucos familiares Regina Almeida, de 92 anos, em um dos três toldos de cor verde dispostos fora da capela do cemitério, como mandam as recomendações sanitárias.
O Brasil por enquanto só tem testado para covid-19 os casos hospitalizados, os de clínicas e os profissionais de saúde, o que proporciona subnotificação. Até a tarde da quarta-feira (1º), o Ministério da Saúde tinha contabilizado 6836 casos oficiais, com 241 mortes.
São Paulo, epicentro da pandemia no país, registrou mais de 150 dos mortos por coronavírus no país desde que o primeiro contágio foi informado em fevereiro. Porém, a Secretaria de Saúde contabiliza 201 exames de pessoas já mortas que esperam o resultado para a doença.
O diagnóstico de José de Santana, de 77 anos, é um dos que figura nessa lista. Seu filho, Genilton Santana, enterrou o pai acompanhado apenas por um amigo. Com uma máscara branca e os olhos cheios de lágrimas, portando apenas a Certidão de Óbito.
"Causa da morte a ser informada, aguarda exames", aparece na explicação sobre o falecimento. "Mostrem isso para ver se as pessoas começam a entender o quão sério isso é", disse Genilton à AFP.
Com informações da AFP e do UOL