Professora de Carambeí doa corpo para estudos científicos
Gesto deverá colaborar para atividades de ensino e pesquisa na Universidade Estadual de Maringá (UEM), além de contribuir com a aprendizagem de futuros profissionais de Saúde
Publicado: 23/01/2025, 18:13
Marli Ondina Menarim, professora aposentada e servidora pública de Carambeí que faleceu na última terça-feira (21), doou seu corpo para estudos científicos. O gesto deve contribuir para o ensino e aprendizagem de estudantes da área da Saúde da Universidade Estadual de Maringá (UEM).
Em entrevista concedida ao Jornalismo do Portal aRede e do Jornal da Manhã, a filha da servidora confirmou que a mãe já avaliava, há algum tempo, a possibilidade de doar seu corpo. Marli se sensibilizou ao saber sobre a burocracia que as instituições de ensino enfrentam para conseguir cadáveres para estudos.
“Quando ela estava internada no hospital, ela manifestou a vontade para a equipe médica e perguntou quais eram os procedimentos necessários para fazer a doação”, explica Lorena Menarim, fisioterapeuta e filha da doadora.
Profissional da área da Saúde, Lorena vê o gesto da mãe com satisfação e lembra que Marli sempre trabalhou em prol da cidade e de outras pessoas. “Temos certeza que fizemos o certo e nos sentimos imensamente satisfeitas em deixar que ela continue ajudando mesmo depois de falecida”, expressa.
DOAÇÃO - O artigo 14 do Código Civil Brasileiro prevê a doação gratuita e voluntária do próprio corpo após a morte com objetivo científico. O processo pode ser feito em vida por pessoas com mais de 18 anos, a partir de registro em cartório - familiares devem estar cientes sobre a intenção.
Outra forma de doação é realizada pela própria família, após a morte do ente querido. Neste caso, é necessário entrar em contato com a universidade para receber as orientações necessárias. O Paraná possui um Conselho Estadual de Distribuição de Cadáveres (CEDC) que também auxilia nas etapas de registro e distribuição de corpos para fins de ensino e pesquisa.
Estudante de Medicina e neta de Marli, Ana Menarim ficou responsável pelos trâmites junto à instituição de ensino superior que receberá a doação. A acadêmica explica que, em casos de doação, a certidão de óbito irá informar a intenção de encaminhar o corpo para estudos.
“Antes de emitir a certidão de óbito, foi necessário fazer uma escritura pública em cartório para registrar a vontade da minha avó e confirmar que a família concordou”, conta Ana. No caso de Marli, a UEM se responsabilizou pelo transporte do cadáver.
Ana Menarim ainda ressalta que a preparação de corpos que serão doados é diferente dos procedimentos adotados em casos comuns. A estudante reforça que, após o tempo de uso, a família poderá decidir se a universidade fará a destinação final do cadáver ou se ele retorna para os familiares programarem o sepultamento ou cremação.
IMPORTÂNCIA - A professora de Medicina e chefe do Departamento de Ciências Morfológicas da UEM, Sônia Trannin de Mello, aponta que a doação de corpos auxilia no desenvolvimento de pesquisas e no avanço da ciência.
A docente lembra que existem modelos 3D e softwares que se assemelham ao corpo humano. No entanto, estes recursos não substituem o contato com a anatomia humana. "Estudar com corpos faz diferença na formação dos profissionais, já que permite o conhecimento tridimensional das estruturas. Isso qualifica o ensino superior", aponta.