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Coluna Fragmentos: Castro: a “Cidade Mãe” do Paraná

A coluna ‘Fragmentos’, assinada pelo historiador Niltonci Batista Chaves, publicada entre 2007 e 2011, retorna como parte do projeto '200 Vezes PG', sendo publicada diariamente entre os dias 28 de fevereiro e 15 de setembro

Em 26 de abril de 1957 o JM publicou matéria tratando dos festejos sobre o Centenário de Castro
Em 26 de abril de 1957 o JM publicou matéria tratando dos festejos sobre o Centenário de Castro -

João Gabriel Vieira

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O século XX trouxe uma mudança estrutural para os Campos Gerais. Foi no início dos Novecentos que Ponta Grossa emergiu como principal cidade da região, beneficiada que foi, principalmente, pela chegada das ferrovias que a transformaram em um dos maiores entroncamentos ferroviários do Brasil. Até então, Castro desfrutava da condição de mais importante cidade de todo interior paranaense.

A ocupação efetiva dos Campos Gerais teve início na primeira década do século XVIII, a partir da concessão – pelo Rei de Portugal – de sesmarias para um grupo de paulistas detentores de escravos e com capacidade financeira para investir na criação de fazendas na região, cumprindo assim o importante papel de ligar o sul brasileiro ao restante da colônia. Foi desta forma que Pedro Taques de Almeida e seus familiares solicitaram – e receberam – amplas áreas que atualmente compõem os municípios de Jaguariaíva, Piraí do Sul, Castro e parte de Ponta Grossa. A forma como se iniciou a ocupação da região, baseada na grande propriedade da terra e no poder de seus senhores, foi responsável por definir um modelo social e uma identidade própria aos Campos Gerais que, de certa forma, perduram até os dias atuais.

Em 19 de março de 1704 foi iniciada a construção de uma pequena capela (atual Igreja Matriz Senhora Sant´Ana) para simbolizar o começo da ocupação efetiva da região. A intensa movimentação de tropas e o crescente número de pessoas que passou a se fixar ao redor dessa capela, constituíram-se em fatores determinantes para o crescimento da povoação. Da mesma forma que outros povoados regionais dos séculos XVIII e XIX, Castro surgiu com a incumbência de atender as necessidades das fazendas que ficavam ao redor do vilarejo e para dar suporte ao trânsito de tropeiros que cortavam os Campos Gerais em direção a Feira de Sorocaba (SP).

Com o tempo, Castro passou a ocupar a condição de principal núcleo urbano dos Campos Gerais, projetando-se política e economicamente no contexto regional. Assim, em 1774 foi elevada à condição de Freguesia de Sant´Ana do Iapó, à Vila Nova de Castro em 1789 e à cidade no ano de 1857, logo após a instituição da Província do Paraná (1853), sendo chamada, por conta disso, de “Cidade Mãe” do Paraná.

Ao iniciar o século XIX, Castro começou a apresentar os primeiros “sintomas” mais evidentes de urbanização. Na década de 1830, por exemplo, foi implantado um tímido sistema de alfabetização para meninos e em 1846 foi criada uma escola para meninas.

Contudo, o que ainda predominavam eram as práticas de trabalho e de lazer mais vinculadas ao universo rural do que ao urbano, como relatou o botânico francês Auguste de Saint-Hilaire ao passar por Castro por volta de 1820: “galopar pelas vastas campinas, atirar o laço, arrebanhar o gado e levá-lo para um local determinado constituem para os jovens atividades que tornam detestável qualquer trabalho sedentário; e nos momentos em que não estão montados a cavalo, perseguindo as vacas e os touros, eles geralmente descansam”.

Cidade mais antiga da região, com a maior população e com grande prestígio econômico e político durante os séculos XVIII e XIX, Castro reinou absoluta até o final dos Oitocentos. Porém, a chegada das ferrovias aos Campos Gerais teve um efeito imediato na reestruturação do cenário regional. Em menos de 20 anos, Ponta Grossa superou Castro em termos populacionais, econômicos e em relevância política.

Atualmente, Ponta Grossa ainda desfruta da condição de pólo regional. Porém, além de manter a condição simbólica de ponto de origem dos Campos Gerais, merece destaque o esforço já há algum tempo empreendido por Castro para manter viva a percepção de que a cidade resume em si todo o processo de formação regional.

A adoção de uma política cultural efetiva, o fortalecimento da identidade local, a valorização e a manutenção do patrimônio histórico e arquitetônico, a criação e popularização de “marcas” e a implantação de um calendário de festas locais, são exemplos vindos de Castro e que deveriam ser seguidos por outras cidades da região, principalmente por Ponta Grossa, onde ações desse porte ainda são muito tímidas ou – principalmente no caso do nosso patrimônio histórico e arquitetônico – caminham na contramão. Salvo engano, Castro nunca discutiu a transformação de ricos espaços culturais como, por exemplo, a Casa de Sinhara, a Casa da Praça e o Museu do Tropeiro em “mercados da família” ou coisa que o valha!

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O material original, com mais de 170 colunas, será republicado na íntegra e sem sofrer alterações. Por isso, buscando respeitar o teor histórico das publicações, o material apresentará elementos e discussões datadas por tratarem-se de produções com mais de uma década de lançamento. Além das republicações, mais de 20 colunas inéditas serão publicadas. Completando assim 200 publicações.

Publicada originalmente no dia 31 de maio de 2009.

Coluna assinada por Niltonci Batista Chaves. Historiador. Professor do Departamento de História da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Doutor em Educação pela Universidade Federal do Paraná.

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