PUBLICIDADE

Coluna Fragmentos: Vergonha e castigo: a sífilis nas páginas do JM

A coluna ‘Fragmentos’, assinada pelo historiador Niltonci Batista Chaves, publicada entre 2007 e 2011, retorna como parte do projeto '200 Vezes PG', sendo publicada diariamente entre os dias 28 de fevereiro e 15 de setembro

Nota tratando da realização da Semana de Combate à Sífilis, promovida pela Faculdade de Farmácia e Bioquímica de Ponta Grossa, publicada no JM em 17 de outubro de 1967
Nota tratando da realização da Semana de Combate à Sífilis, promovida pela Faculdade de Farmácia e Bioquímica de Ponta Grossa, publicada no JM em 17 de outubro de 1967 -

João Gabriel Vieira

@Siga-me

Dados publicados em 2008 pela Organização Mundial da Saúde indicam que pelo menos meio milhão de crianças ainda nascem a cada ano no mundo com sífilis congênita.

Apesar de bem conhecida do ponto de vista da identificação de seu agente transmissões – o Treponema pallidum –, formas de contágio e terapêutica, essa doença ainda suscita campanhas por parte de órgãos públicos e de entidades da sociedade civil que se preocupam com o combate das doenças sexualmente transmissíveis.

No caso do Brasil, a sífilis chegou a partir do século XVI, trazida pelos colonizadores portugueses. O sociólogo Gilberto Freyre, no clássico “Casa-Grande e Senzala”, afirma que no primeiro século da colonização essa doença era tão comum que “o brasileiro a ostentava como quem ostentava uma ferida de guerra.”

Até meados do século vinte, a sífilis se constituiu em uma das doenças que provocou grande temor na população brasileira, tanto pelo número de casos como pelas sequelas que deixava àqueles que a contraíam.

Ao estudar a disseminação e o combate da sífilis no Paraná no início do século XX, a professora da Universidade Federal do Paraná, Vera Regina Beltrão Marques, recuperou os discursos produzidos por médicos e educadores daquele período. Segundo ela, na maioria das vezes, eles destacavam o perigo da “degeneração da raça” por meio da consaguinidade (discussão bastante típica para uma época em que as teses da eugenia, ou seja, a “melhoria da raça” eram defendidas abertamente). Também tratavam das questões de ordem moral, leia-se, o comportamento sexual inadequado, sobretudo, dos homens.

Até o início do século XX, foi bastante comum o tratamento feito por curandeiros que se valiam das chamadas massas (unguentos de mercúrio). Com o avanço da farmacologia no Brasil, surgiram diversos medicamentos destinados ao combate da sífilis, como o Salvarsan, o Ciargil, o Unguento Napolitano, o Elixir 914 e o Elixir de Nogueira.

Em 1924 a Revista do Rádio, uma das publicações mais lidas no Brasil naquele período publicou uma entrevista com o Dr. Theóphilo Almeida, então considerado um dos maiores especialistas brasileiros no assunto. Com uma visão avançada para a época, o médico defendeu a realização de campanhas de conscientização por meio de palestras, cartazes e programas radiofônicos. Para ele, vergonhoso era ocultar o mal, não evitá-lo e não tratá-lo convenientemente.

No entanto, nas décadas seguintes a sífilis – assim como a malária, a tuberculose, o tifo, a varíola e a hanseníase – grassou por todo território brasileiro, deixando um grande número de aleijados e mortos no país.

Em 1967 o Jornal da Manhã publicou uma matéria a respeito da realização da Primeira Semana de Combate a Sífilis, realizada pela Faculdade Estadual de Farmácia e Bioquímica de Ponta Grossa (que a partir de 1969 passou a integrar a UEPG), demonstrando que a doença continuava preocupando nossas autoridades e exigia ações efetivas por parte das instâncias relacionadas com a saúde pública em nosso município.

.

O material original, com mais de 170 colunas, será republicado na íntegra e sem sofrer alterações. Por isso, buscando respeitar o teor histórico das publicações, o material apresentará elementos e discussões datadas por tratarem-se de produções com mais de uma década de lançamento. Além das republicações, mais de 20 colunas inéditas serão publicadas. Completando assim 200 publicações.

Publicada originalmente no dia 01 de março de 2009.

Coluna assinada por Niltonci Batista Chaves. Historiador. Professor do Departamento de História da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Doutor em Educação pela Universidade Federal do Paraná.

PUBLICIDADE
PUBLICIDADE