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Coluna Fragmentos: Práticas de educação sanitária

A coluna ‘Fragmentos’, assinada pelo historiador Niltonci Batista Chaves, publicada entre 2007 e 2011, retorna como parte do projeto '200 Vezes PG', sendo publicada diariamente entre os dias 28 de fevereiro e 15 de setembro

Em 30 de setembro de 1977 o JM publicou notícia sobre a política da Secretaria de Saúde de Bem Estar Social do Paraná a respeito das práticas de educação sanitária
Em 30 de setembro de 1977 o JM publicou notícia sobre a política da Secretaria de Saúde de Bem Estar Social do Paraná a respeito das práticas de educação sanitária -

João Gabriel Vieira

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Nos dias atuais determinadas práticas básicas de higiene estão incorporadas ao cotidiano da maior parte das pessoas. Tomar banho diariamente, lavar as mãos antes das refeições e escovar os dentes, são atitudes que se aprendem desde a infância. Porém, até pouco tempo, várias dessas práticas não eram tão comuns.

Muitas vezes tendemos a naturalizar hábitos que foram culturalmente adotados pelas sociedades, como se eles fizessem parte do dia-a-dia das pessoas desde a pré-história. Contudo, seria um exagero imaginarmos que o homem de Neandertal se preocupasse com a limpeza dos alimentos que consumia ou que o banho diário fosse uma exigência entre seus pares, até porque o universo microscópico e dos seus agentes disseminadores de doenças só passou a ser conhecido pela moderna ciência do século XIX.

No caso do Brasil, foi somente nas décadas iniciais do século XX que surgiram os primeiros órgãos e ações oficiais no sentido de educar a população para tais hábitos. Até então não existiam políticas nacionais de prevenção e controle de moléstias. Imperava o chamado campanhismo, ou seja, sempre que eclodia um surto de varíola, febre amarela ou qualquer outra doença contagiosa, os governos da República e dos estados promoviam ações emergenciais que objetivavam isolar os doentes e minimizar os efeitos dessas epidemias.

Em 1922 Geraldo de Paula Souza, médico formado pela Faculdade de Medicina de São Paulo, retornou ao Brasil após uma passagem pelo Instituto de Saúde Pública de Baltimore. Nos Estados Unidos, onde realizou mestrado, o Dr. Paula Souza tomou conhecimento da perspectiva que compreendia os problemas de saúde como resultantes, em grande parte, da falta de informação e educação do povo.

Naquele mesmo ano Paula Souza assumiu a direção do Instituto de Higiene e do Serviço Sanitário de São Paulo e imediatamente criou uma nova categoria profissional: a das educadoras sanitárias, professoras que passaram a se preocupar com a difusão de hábitos de higiene e educação sanitária entre os alunos da rede pública estadual paulista. Em 1925, Paula Souza promoveu uma grande reforma do código sanitário de São Paulo, na qual a criação de centros de saúde e de cursos de educadores sanitários apareceram como principais novidades.

Essas ações promovidas por Geraldo de Paula Souza serviram de inspiração para outros estados brasileiros, inclusive o Paraná. A partir de então esses estados criaram e ampliaram órgãos de controle sanitário e passaram a compreender que as ações no campo da saúde não poderiam ficar restritas ao campanhismo que até então imperava.

Paralelo as ações de Paula Souza, ao longo da década de 1920 foram realizados os primeiros congressos brasileiros de higiene nos quais foram debatidos inúmeros temas relacionados às questões de higiene e sanitarismo, identificados então como problemas nacionais.

Em 1930, logo após chegar ao poder, Getúlio Vargas criou o Ministério de Educação e Saúde Pública. A partir de então o Governo Federal assumiu, centralizou e uniformizou o controle das práticas sanitárias no país. Muito mais que a vontade pessoal de Vargas, o que pesou para que o Ministério fosse criado foram as ações e discussões produzidas pela sociedade brasileira ao longo da década de 1920.

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O material original, com mais de 170 colunas, será republicado na íntegra e sem sofrer alterações. Por isso, buscando respeitar o teor histórico das publicações, o material apresentará elementos e discussões datadas por tratarem-se de produções com mais de uma década de lançamento. Além das republicações, mais de 20 colunas inéditas serão publicadas. Completando assim 200 publicações.

Publicada originalmente no dia 07 de setembro de 2008.

Coluna assinada por Niltonci Batista Chaves. Historiador. Professor do Departamento de História da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Doutor em Educação pela Universidade Federal do Paraná.

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