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Coluna Fragmentos: O JM e a criação da Faculdade de Medicina

A coluna ‘Fragmentos’, assinada pelo historiador Niltonci Batista Chaves, publicada entre 2007 e 2011, retorna como parte do projeto '200 Vezes PG', sendo publicada diariamente entre os dias 28 de fevereiro e 15 de setembro

Primeira página do JM em 13 de junho de 1967. A manchete destacava a luta dos estudantes ponta-grossenses para a implantação do curso de medicina na cidade
Primeira página do JM em 13 de junho de 1967. A manchete destacava a luta dos estudantes ponta-grossenses para a implantação do curso de medicina na cidade -

João Gabriel Vieira

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Na última sexta-feira (28/09) a Associação Médica de Ponta Grossa lançou, no Shopping Palladium, uma exposição sobre a história da medicina na cidade. Centrada nos acontecimentos ocorridos entre 1951 e 1977, ela aborda temas diversos que fizeram parte do cotidiano da medicina ponta-grossense naquele período.

Entre os temas destacados da exposição, um dos que mais chama a atenção é a ocorrência de um movimento em favor da implantação de um curso de medicina em Ponta Grossa na década de 1960. Diferentemente, portanto, do que a maioria dos ponta-grossenses possa imaginar essa luta não é recente. As marchas de protesto contra o governo Requião, há alguns anos, não são exatamente uma novidade quando se trata do assunto.

Em 1967 o JM – então dirigido por Oswaldo Spósito, comerciante que assumira o comando do jornal (juntamente com Wallace Pina, Jorge Miguel Ajuz e Hilário Szeliga) – publicou inúmeras notícias sobre a mobilização da sociedade ponta-grossense na busca pela implantação de uma faculdade de medicina na cidade. Naquele tempo, Ponta Grossa contava com faculdades isoladas, as quais, em 1971, constituiriam o núcleo original da UEPG.

As notícias datam de meados de 1967, e, por meio delas, é possível perceber o grau de envolvimento dos princesinos. Em 13 de junho daquele ano, por exemplo, a primeira página do JM estampava: ESTUDANTES IRÃO À RUA PARA LUTAR POR NOVA FACULDADE.

Comum nos dias atuais, a presença de estudantes, trabalhadores e de setores da sociedade civil organizada nas ruas não era habitual naquele Brasil governado por uma ditadura. A imagem de pessoas reunidas nas ruas, indiferente dos motivos que as levava a isso, incomodava os militares, sempre ciosos pela manutenção da ordem e do controle social.

De acordo com as informações encontradas nas amareladas páginas no JM, a defesa da implantação do curso de medicina em Ponta Grossa começou nos meios estudantis. Entre as figuras de destaque do movimento estavam os professores Aristeu Costa Pinto, Egdar Zanoni e Osmario Pimentel. Alunos do Regente Feijó, do Instituto de Educação, do Julio Teodorico e do Colégio Comercial parecem ter tomado a frente das ações. A proposta era entregar, ao então Governador Paulo Pimentel, um manifesto contendo 50.000 assinaturas a favor da abertura do curso.

As inúmeras notícias publicadas pelo JM revelam que aquela luta por uma faculdade de medicina tem uma estreita semelhança com o movimento que a cidade presenciou em 2003, com a diferença que o primeiro pleiteava a implantação e o último a sua reabertura. Depois de arrolados os argumentos e publicadas as opiniões de autoridades sobre o assunto, o certo é que o curso de medicina acabou não sendo implantado naquela época.

A “descoberta” desse episódio, lembrado ou conhecido por poucos ponta-grossenses, é apenas mais um dos importantes acontecimentos ocorridos em Ponta Grossa na segunda metade do século XX, e que, a pesquisa das páginas do JM nos ajudam a conhecer.

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O material original, com mais de 170 colunas, será republicado na íntegra e sem sofrer alterações. Por isso, buscando respeitar o teor histórico das publicações, o material apresentará elementos e discussões datadas por tratarem-se de produções com mais de uma década de lançamento. Além das republicações, mais de 20 colunas inéditas serão publicadas. Completando assim 200 publicações.

Publicada originalmente no dia 30 de setembro de 2007.

Coluna assinada por Niltonci Batista Chaves. Historiador. Professor do Departamento de História da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Doutor em Educação pela Universidade Federal do Paraná.

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