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Coluna Fragmentos: Vargas de Oliveira, o JM e a Ditadura Militar

A coluna ‘Fragmentos’, assinada pelo historiador Niltonci Batista Chaves, publicada entre 2007 e 2011, retorna como parte do projeto '200 Vezes PG', sendo publicada diariamente entre os dias 28 de fevereiro e 15 de setembro

Artigo de primeira página do JM em 06 de agosto de 1964. Após o apoio inicial, o Deputado João Vargas de Oliveira expressa sua decepção com o regime militar instaurado em 31 de março daquele ano
Artigo de primeira página do JM em 06 de agosto de 1964. Após o apoio inicial, o Deputado João Vargas de Oliveira expressa sua decepção com o regime militar instaurado em 31 de março daquele ano -

João Gabriel Vieira

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Quando uma ditadura toma o poder, seja ela de direita ou esquerda (alerto que não estou convencido de que estes conceitos ainda fazem sentido nos dias atuais!) há sempre uma espécie de prejuízo generalizado: indivíduos isolados, sociedade civil, movimentos sociais, intelectuais, produção artístico-cultural ... todos perdem!

Nesse quadro, os veículos de comunicação, devido ao seu potencial de convencimento da opinião pública, estão sempre entre os “alvos preferenciais” de tais regimes.

O golpe de 31 de março de 1964 derrubou um presidente democraticamente eleito pelo voto direto e deixou marcas profundas na história recente do Brasil. Caracterizada pela violência sistemática e institucionalizada, pela ausência de liberdades e pela arbitrariedade, a ditadura militar encontrou no binômio censura/controle de informação uma das formas mais eficientes para exercer o poder naquele período.

Certamente as pessoas que viveram esse triste capítulo de nossa história ainda lembram dos espaços em branco, poesias e receitas culinárias que estampavam as primeiras páginas dos jornais brasileiros naquele período, especialmente no início dos anos 70, momento em que se acentuou o controle da informação no país.

Quando os militares destituíram João Goulart, o JM, nascido dez anos antes do golpe, se consolidava diante da opinião pública dos Campos Gerais. De certa forma, podemos dizer que o então proprietário do jornal, o deputado udenista João Vargas de Oliveira, teve uma postura ambígua com relação à ditadura, ora apoiando, ora criticando o regime.

De tendência conservadora, Vargas de Oliveira, assim como a grande maioria das autoridades municipais do período, esteve ao lado dos militares nas movimentações de 31 de março. Pouco depois, no entanto, a exemplo do que ocorreu com Carlos Lacerda, Governador da Guanabara, líder nacional da UDN e um dos articulares do golpe, João Vargas de Oliveira explicitou, em um artigo publicado pelo JM, seu desencantamento com os rumos do “novo” regime: “Não, a revolução que eu sonhei, não foi essa que está ai!”, afirmou no dia 6 de agosto de 1964.

Mal sabia ele, que aqueles seriam apenas os primeiros meses de um regime que ficaria por mais de duas décadas no poder. João Vargas de Oliveira deixou a direção do JM em 1967, antes mesmo dos chamados “Anos de Chumbo” que teriam no ano de 1968, seu marco inicial.

O tom discursivo do jornal nos primeiros anos da ditadura ainda mostrou-se pontualmente crítico ao governo militar. Aos poucos, sobretudo após a posse do General Costa e Silva (1969), a voz do JM, assim como de praticamente todos os veículos de comunicação no país, foi se tornando cada vez mais suave e submissa, adequando-se – por afinidade ou por uma estratégia de sobrevivência – ao discurso oficial.

João Vargas de Oliveira continuou na vida pública, reelegendo-se deputado, já pela ARENA, até o final dos anos 70. O JM, apesar da censura e do controle da informação, sobreviveu!

Durante os três anos que dirigiu o JM, Vargas de Oliveira utilizou o veículo como um espaço privilegiado para expor suas idéias e princípios, bem como de seus correligionários da UDN. Fórmula, aliás, absolutamente contemporânea. Sua principal contribuição ao jornalismo ponta-grossense foi consolidar o JM no cenário local e regional.

Durante os 21 anos do regime militar, o JM contou com outros proprietários, como: Wallace Pina, Constâncio Mendes, Oswaldo Spósito e, Gustavo Horst, o qual teve a oportunidade de dirigir o jornal no momento em que a ditadura chegou ao seu final e o país retomou sua normalidade política.

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O material original, com mais de 170 colunas, será republicado na íntegra e sem sofrer alterações. Por isso, buscando respeitar o teor histórico das publicações, o material apresentará elementos e discussões datadas por tratarem-se de produções com mais de uma década de lançamento. Além das republicações, mais de 20 colunas inéditas serão publicadas. Completando assim 200 publicações.

Publicada originalmente no dia 23 de setembro de 2007.

Coluna assinada por Niltonci Batista Chaves. Historiador. Professor do Departamento de História da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Doutor em Educação pela Universidade Federal do Paraná.

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