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Em ‘Bardo’, diretor Iñarritu mergulha em suas origens

O longa ’Bardo - Falsa Crônica de Algumas Verdades’usa da metalinguagem para uma reflexão da carreira do diretor Iñarritu, onde o autor passa por uma crise existencial

A direção parece sempre tratar de um personagem perdido.
A direção parece sempre tratar de um personagem perdido. -

Depois de uma primeira década dos anos 2000 de sucesso com ‘Amores Brutos’ e ‘Babel’, Alejandro González Iñarritu logo se tornou um dos cineastas mexicanos “do momento”. Ao lado de Guillermo del Toro e Alfonso Cuarón, Iñarritu foi alçado ao patamar de queridinho da indústria. Veio o sucesso, e seus dois filmes seguintes, ‘Birdman’ e ‘O Regresso’, não só foram sucessos incontestáveis em bilheteria, como elevaram o cineasta ao posto de um dos artistas mais premiados pela Academia no século, com quatro estatuetas: uma de Melhor Filme, duas de Melhor Diretor e uma de Melhor Roteiro Original.

Iñarritu, então, entrou em um hiato, e após sete anos sem lançar um filme, voltou com ‘Bardo’, filme que narra uma experiência metalinguística do diretor, trazendo uma reflexão da carreira do diretor e suas origens mexicanas. Mas Iñarritu, em vez de explorar essas ideias a partir do roteiro, o faz a partir dos elementos visuais.

A direção parece sempre tratar de um personagem perdido. A montagem constantemente escala a fantasia dos acontecimentos com um simples corte. Com isso, cria-se uma desordem para narrativa que faz pouco importar o que de fato está sendo dito diante do que está sendo mostrado. É um filme que leva para sua forma as incertezas que permeiam a mente de seu protagonista e autor.

A ESTÉTICA

As cenas intimistas, que falam sobre o isolamento do autor, são belas, fluidas, e abraçam a humanidade dos personagens, enquanto as megalomaníacas parecem estarem contidas, abrindo o escopo para filmar grandes cenários recheados de figurantes e acontecimentos, mas que não exploram essas composições ao máximo. Há uma estética televisiva que não valoriza a potencial magnitude do que se encontra diante das lentes.

Entre seus erros e acertos, ‘Bardo’ é um filme que merece ser visto e discutido para além de ser bom ou ruim; é um filme que vale a discussão por nos mostrar um cineasta ciente de sua jornada e de tudo que seus críticos falam sobre sua filmografia. ‘Bardo’ interessa por mostrar o lado vulnerável de seu cineasta, que filma seu protagonista alter-ego como um sujeito em uma eterna busca por paz. Em um tempo em que o cinema blockbuster parece ser cada vez mais homogêneo, é interessante encontrar em grandes produções um esforço por algo autoral e que fale sobre seu próprio processo de construção, mesmo que esse projeto seja em alguns momentos tão pretensioso quanto falho

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