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Localização privilegiada é um dos indutores do desenvolvimento de PG
A fundação da cidade aconteceu em 1822, mas o forte desenvolvimento da cidade foi deflagrado no final do século XIX
Fernando Rogala | 15 de setembro de 2024 - 10:26
Ponta Grossa é uma das mais antigas cidades paranaenses. Ela surgiu com o passar dos tropeiros, no caminho que fazia a ligação do Sul do Brasil com São Paulo - o maior centro comercial do país. Seu desenvolvimento começou no início do século XVIII, tendo o desenvolvimento de um povoado, onde os viajantes repousavam e movimentavam o comércio, e onde teve início a criação de animais. A fundação da cidade aconteceu em 1822, mas o forte desenvolvimento da cidade foi deflagrado no final do século XIX, com a chegada dos trilhos do trem.
“Historicamente, conseguimos entender que o grande elemento de transformação em Ponta Grossa é a chegada da ferrovia na última década do século XIX, a estrada de ferro do Paraná que liga Ponta Grossa ao Porto de Paranaguá. E a São Paulo - Rio Grande, que liga Ponta Grossa ao extremo do país, com o principal centro financeiro e produtivo do país, que é São Paulo. Então, num espaço de menos de dez anos, Ponta Grossa se transformou no maior entroncamento ferroviário do sul do Brasil”, explica o historiador Niltonci Batista Chaves, doutor, professor do departamento de história da UEPG e diretor-geral do Museu Campos Gerais, reforçando que como nessa época não existiam carros, o trem era o principal indutor de desenvolvimento.
Foi nessa época, da chegada dos trilhos, que se desenvolveu a indústria local. Com linhas para diferentes destinos, a cidade se colocou apta para receber e enviar produtos de todo o país e de fora do país para outros destinos. E um dos maiores símbolos foi a fundação da cervejaria Adriática, em 1894 (então como uma filial da Cervejaria Curitibana), no Centro da cidade, onde hoje está o Centro Empresarial Antártica, na avenida Vicente Machado, próximo à Estação.
Nesse período, do início do século XX, houve o ciclo da erva-mate, inclusive com a instalação da Mate Leão na cidade, em frente à ‘Estação Arte’ (o nome da rua Ermelino de Leão nasceu aqui). Com a Primeira Guerra Mundial, houve o ciclo da madeira, gerando grande demanda para exportação, e Ponta Grossa passou pelo grande ciclo industrial da madeira, que eclodiu na década de 1940, com a instalação de grandes madeiras, como a Indústrias Wagner, a F. Slaviero; Filhos S.A (então a maior madeireira do país), entre outras. Até a década de 1950, eram mais de dez grandes madeireiras na cidade, além de pequenas serrarias - com várias delas se instalando ao lado dos trilhos de trem e em Oficinas. Também nessa primeira metade do século XIX a cidade teve um grande ciclo de investimentos em frigoríficos, sendo desse setor a primeira indústria multinacional de Ponta Grossa: a Frigorífico Wilson, da Argentina, localizada em Uvaranas. Instalada em 1953, a unidade depois se transformou em ‘Comabra’ e depois na ‘Sadia’, hoje BRF.
INÍCIO MULTINACIONAIS - Até meados do século XX, Ponta Grossa era bastante populosa e tinha grande força econômica. “A cidade se tornou a principal cidade do interior do Paraná no que diz respeito à industrialização. Só era suplantada por Curitiba”, reforça Niltonci. Depois, com a expansão paranaense para outras regiões e o desenvolvimento de cidades como Londrina, Maringá, Cascavel, entre outras, e com o declínio das atividades ferroviárias, Ponta Grossa se preparou para expandir. Em 1967, foi elaborado um Plano Diretor Municipal, e em 1969, na gestão do prefeito Cyro Martins, foi criado o Plano de Desenvolvimento Industrial (Pladei), que permitiu o grande ciclo de desenvolvimento industrial com a instalação de inúmeras multinacionais, especialmente moageiras. Entre elas estão a Cargill, Sanbra (depois Ceval, hoje Bunge), Anderson Clayton (depois Gessy Lever, Coinbra; hoje Louis Dreyfus), Mak Bros (moinho de trigo), entre outras, bem como a japonesa Kurashiki e outras indústrias, do agronegócio, como Sagro, Quimbrasil, Imcopa, Monofil, entre outras.
“É esse o segundo momento muito claro de um desenvolvimento industrial da cidade. Dá para dizer, com toda certeza, que são dois períodos distintos, com lógicas distintas e com características próprias”, reforça Niltonci.
O outro ciclo de industrialização foi iniciado em meados da década de 1990, com o início das operações da Cervejarias Kaiser (hoje Heineken), em 1996; Continental e Tetra Pak, em 1999; Beaulieu (Belgotex, em 2000) e Masisa (hoje Arauco, em 2001).