Debates
Neonatal
Da Redação | 16 de dezembro de 2015 - 04:03
Nos últimos dias tenho ouvido falar muito da violência obstétrica que a mulher sofre no parto. Um tema a ser discutido pelos profissionais da área obstétrica e com certeza de enorme valia e de suma importância para a sociedade. Palavras rudes, piadas de mau gosto de profissionais, ambiente desfavorável, etc fazem parte deste contexto e precisam ser modificadas.
Quando o assunto é nascimento, é impossível separar este binômio MÃE e FILHO. O que se aplica à mãe tem consequência imediata no filho.
Vamos analisar o nascimento sobre outra ótica: A do bebê. E como pediatra eu também vou falar de violência: A Violência Neonatal.
Até onde vai a liberdade de um ser humano? A resposta: Ela termina onde começa a do outro ser humano.
Até onde vai a liberdade de uma mulher que não quer que faça nenhum procedimento em seu corpo e até mesmo no recém-nascido, mas que isso pode por em risco a vida ou mesmo gerar uma sequela para outro ser humano?
Óbvio que o assunto violência obstétrica está longe de terminar. Para a mulher o nascimento cursa com um imaginário muito forte. Um idealismo muito grande. A imagem que é passada é que tudo vai ocorrer bem, que nada vai dar errado. Existem portanto, dois tipos de partos: O imaginário e o real. Totalmente diferentes um do outro.
O Nascimento não é algo tão simples como todos imaginam e alguns profissionais VENDEM essa falsa ideia de que tudo vai correr bem e nada, absolutamente nada, vai dar errado.
Ironicamente, a única coisa certa na vida é a morte. Todo o resto pode mudar em questão de segundos.
A medicina neonatal evoluiu muito nas últimas décadas para dar suporte à vida neonatal. Baseada em consequências desastrosas para o feto, nas últimas décadas é que surgiram procedimentos considerados invasivos, mas que bem aplicados, garantem um acesso do feto à vida extrauterina com menos traumas e sequelas.
É preciso dar voz ao recém-nascido, tão pouco “ouvido” nas últimas discussões de partos domiciliares, de não procedimentos obstétricos e neonatais.
Para as mulheres grávidas a sociedade já está cheio de Doulas e Parideiras defendendo valores absurdos, desconsiderando muitas vezes o próprio filho.
Não é violência neonatal o recém-nascido ser avaliado deprimido depois de um parto domiciliar e ter que ser levado ás pressas para o hospital?
Não é violência neonatal não garantir à criança o que lhe é devido por lei como acesso aos melhores recursos da medicina logo após o nascimento?
Não é violência neonatal uma criança nascer bem e imediatamente após o parto apresentar uma gemência ou cianose por uma cardiopatia ou por um problema pulmonar(Entenda-se sofrimento) que não foi diagnosticada em ultrassom morfológico e não ser avaliada por um profissional competente logo após o nascimento, pondo sua vida em risco?
Enfim. É preciso pensar que na voz que grita:- “Eu mulher, Quero que meu filho nasça onde eu bem entender”, existe outra “voz” por trás que implora: - “Eu, recém nascido quero nascer com as melhores condições possíveis, porque se algo der errado, sou eu que vou carregar a consequência para o resto da vida”.
Embora muito romântico e envolvente, o parto no domicílio envolve muitos riscos, e por mais competente que seja o profissional que o assiste este tipo de parto, se houver uma complicação grave( e isso pode ocorrer) o elo mais fraco deste binômio mãe e filho, poderá ficar com sequelas para toda vida.
Dizer que se houver uma complicação é só acionar um serviço de urgência é esquecer de todas as inúmeras variáveis que podem acontecer, entre elas, a demora que para o recém nascido pode ser de vital importância.
Como pediatra vou continuar escrevendo e postando sobre o nascimento e falando da minha experiência nesses 17 anos de profissão em pediatria.
Já vi muita coisa triste acontecendo com o máximo de recursos e vou esclarecer sempre a população que me procura do que é o melhor para a criança.
Este é o meu papel de Pediatra e Cidadão.
Rodrigo De Souza Netto
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*Autor é médico pediátrica em Ponta Grossa