Debates
STF e a rota terminal do caso Bolsonaro
Mario Martins | 11 de novembro de 2025 - 02:36
Por Marcelo Aith
O julgamento dos embargos de declaração apresentados pela
defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro no processo da chamada “trama golpista”
no Supremo Tribunal Federal (STF) consolidou uma inflexão definitiva na
trajetória do caso. Ao rejeitarem o recurso, os ministros Alexandre de Moraes,
Criastiano Zanin e Flávio Dino reafirmaram não apenas a robustez da condenação,
mas também o entendimento de que a Corte Superior encerrou a fase de
controvérsias jurídicas relevantes. O processo entrou, agora, em seu estágio
terminal.
Moraes, relator da ação, qualificou os recursos como “meras
insurgências” contra o resultado do julgamento e destacou que todos os pontos
levantados pela defesa (omissões, contradições e erros na dosimetria da pena)
já haviam sido amplamente examinados. O voto reitera a narrativa construída
desde o início da ação penal: a de que Bolsonaro não foi um coadjuvante, mas o
centro de gravidade de uma organização criminosa que tentou abalar as bases do
Estado democrático de Direito.
O relator insistiu na ideia de liderança consciente e
dolosa. O ex-presidente, segundo ele, teve ciência do plano de monitoramento e
neutralização de autoridades e participou ativamente da difusão de mentiras
sobre o sistema eletrônico de votação, pavimentando o terreno para a ruptura
institucional. Flávio Dino acompanhou integralmente essa posição, reforçando a
mensagem de coesão interna da Primeira Turma, algo que, no contexto político e
jurídico, tem peso simbólico relevante.
O julgamento também reafirma a legitimidade da dosimetria
aplicada: 27 anos e três meses de reclusão. Moraes destacou que a pena foi
fixada dentro dos parâmetros legais e agravada pelas circunstâncias judiciais
“amplamente desfavoráveis” ao réu. A resposta implícita à estratégia defensiva
é clara: o STF não pretende reabrir discussões de mérito travestidas de
embargos técnicos. O precedente é importante, porque tende a limitar o uso
abusivo de recursos como forma de protelar o trânsito em julgado de condenações.
No campo institucional, o Supremo demonstra um duplo
movimento. De um lado, preserva sua autoridade como corte constitucional capaz
de julgar crimes contra a democracia, sem ceder à pressão política. De outro,
sinaliza que não pretende transformar o processo penal do ex-presidente em um
interminável ciclo de recursos e manobras processuais. Esse equilíbrio, entre
rigor técnico e autocontenção política, tem sido um dos desafios centrais do
tribunal desde os ataques de 8 de janeiro de 2023.
O futuro imediato de Jair Bolsonaro no STF, portanto, está
delimitado. Salvo algum movimento improvável, como a apresentação de embargos
infringentes em cenário sem divergência de votos, a Primeira Turma deve
concluir o julgamento dos recursos até o fim do ano. A partir daí, o ministro
Alexandre de Moraes decidirá sobre o início da execução da pena, que pode
ocorrer ainda em 2025.
Resta saber sob que condições o ex-presidente cumprirá a
sentença. Bolsonaro está atualmente em prisão domiciliar por outro processo, e
o tribunal deverá definir se ele permanecerá nessa condição, será transferido
para a Papuda, para uma unidade militar ou para dependências da Polícia
Federal.
Com o placar praticamente formado e o ambiente institucional amadurecido desde os episódios de ruptura, o STF chega ao ponto de não retorno. A Corte Superior não apenas julga um ex-presidente, mas também fixa as fronteiras da impunidade política no Brasil democrático. A era Bolsonaro, ao menos nos tribunais superiores, aproxima-se de seu desfecho. E o desfecho, ao que tudo indica, não será de absolvição.
*Marcelo Aith é advogado criminalista. Doutorando Estado de Derecho y Gobernanza Global
pela Universidad de Salamanca - ESP. Mestre em Direito Penal pela
PUC-SP. Latin Legum Magister (LL.M) em Direito Penal Econômico pelo Instituto
Brasileiro de Ensino e Pesquisa – IDP. Especialista em Blanqueo de Capitales
pela Universidad de Salamanca.