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Acir está certo: Leia Nelson Werneck Sodré

Imagem ilustrativa da imagem Acir está certo: Leia Nelson Werneck Sodré

Por Giovani Marino Favero

Conheço o historiador e agente universitário Acir há mais de vinte e cinco anos. Desde os tempos que eu era um estudante empolgado, ele sempre usava como referência: Nelson Werneck Sodré. Confesso, sem orgulho algum, que por duas décadas deixei essa indicação guardada na gaveta do esquecimento. Até que esse ano, sem motivo aparente, topei com alguns de seus livros em PDF. Cliquei, baixei e mergulhei.

Que pancada! O primeiro foi História da Imprensa no Brasil (1966). Li de um fôlego só, entre indignado e fascinado. Indignado por não ter lido antes, por ter negligenciado o conselho de Acir. Fascinado pela clareza de uma obra que parece escrita ontem, não há quase sessenta anos. Uma pergunta emergiu imediatamente: Por quê não estudamos Nelson Weneck Sodré nas escolas?

Nesse livro, Sodré mostra que os jornais nunca foram neutros, nunca foram apenas transmissores de informação. Desde o século XIX, ele revela, a imprensa é um campo de poder, instrumento de disputa política, expressão de interesses de classe. Quem paga, quem controla, quem se beneficia: aí está a chave da narrativa. O espelho que ele nos oferece é desconfortável, porque, ao olhar para hoje, a semelhança é inevitável. Mudaram as tecnologias, mas não a lógica. Se antes uma manchete podia influenciar uma revolta ou derrubar um governo, agora basta um algoritmo malicioso ou uma enxurrada de fake news para moldar consensos, direcionar votos, incendiar ânimos.

A leitura de Sodré escancara que, no fundo, o jogo continua o mesmo. Ontem, era uma tipografia no centro do Rio de Janeiro imprimindo a opinião de poucos para o consumo de muitos. Hoje, é um trending topic no X (antigo Twitter) reverberando a voz de alguns milhões — mas ainda sob as rédeas invisíveis de interesses econômicos e políticos. A forma mudou, mas a essência permanece: a imprensa, seja de papel, seja digital, nunca é inocente.

Acir está certo. Ler Sodré não é apenas reencontrar um clássico: é adquirir lentes para enxergar com mais nitidez a névoa informativa em que vivemos. É perceber que a disputa pela narrativa não começou com os influenciadores digitais, mas que eles são herdeiros diretos de uma longa tradição de manipulação e poder. É, sobretudo, um convite para não sermos leitores ingênuos. Afinal, como Sodré nos ensinou: acreditar na neutralidade da imprensa é como acreditar que o espelho reflete sem distorcer.

Giovani Marino Favero é professor associado do Departamento de Biologia Geral da UEPG.

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