Debates
Anistia e meio ambiente
Da Redação | 24 de maio de 2025 - 00:13

Por Mário Sérgio de Melo
Dois temas têm frequentado o noticiário: a anistia aos golpistas de 8 de janeiro e a flexibilização das leis ambientais. Dois assuntos que, não parece, mas estão muito ligados: têm a ver com o dilema civilizacional que vivemos, que vai decidir o futuro da humanidade.
É certo falar em golpistas de 8 de janeiro? Na verdade, os vândalos de 8 de janeiro foram uma armação dos verdadeiros golpistas, infiltrados nas repartições, quartéis, tribunais, agronegócio, empresariado. Eles são uma parcela da população que alcançou poder político, econômico, militar, forense, mas não aceita as regras da convivência democrática. Felizmente, só parte da população apresenta tal distúrbio de personalidade. A maioria acredita que é possível que regras construídas por todos, que valham para todos, são as que podem conduzir à convivência pacífica e próspera.
Os verdadeiros golpistas, que materializam no Brasil o surto de neofascismo que acomete o mundo, financiaram os vândalos de 8 de janeiro, numa tentativa de deflagrar uma revolta popular. Mas, entre os vândalos, estavam só pessoas iludidas pelos golpistas? A maioria talvez estivesse lá ludibriada. Mas boa parte estava lá porque identifica-se com os golpistas que não toleram a democracia.
E o meio ambiente? O Congresso Nacional discute projeto de lei flexibilizando o licenciamento ambiental. Alega-se que é para diminuir a burocracia, mas na verdade a lei discutida desobrigaria o cumprimento de muitas das leis ambientais vigentes. Mas tais leis são essenciais. No mundo, o “Dia da Sobrecarga da Terra” para 2025 deverá ser o dia 1º de agosto: o dia em que a humanidade esgotará os recursos naturais disponíveis para todo este ano.
O Brasil, tido como um país com matriz energética limpa – graças às hidrelétricas e ao etanol –, é o quinto maior emissor de gases estufa. Motivo: o desmatamento na Amazônia e no Cerrado. A análise das águas de abastecimento público revelou onipresença de substâncias tóxicas de esgotos e da agropecuária. Somos o país com maior quantidade de água doce do mundo, mas estamos rapidamente envenenando-a.
Os representantes que elegemos parecem dispostos a conceder anistia aos golpistas e a flexibilizar as leis ambientais. São dois casos que têm a ver com o ambiente social e natural que estamos construindo para o futuro próximo. Eles escolherão um devir de respeito à democracia e à natureza em benefício de toda a população? Ou darão preferência aos interesses de quem despreza a democracia, explora o trabalhador e a natureza?
Vale lembrar: os parlamentares que lá estão decidindo sobre estes temas foram eleitos pela população. Eles estão representando a população? Foram eleitos para isso? E a população, está sabendo eleger seus representantes? Ou está sendo ludibriada também no momento do voto, tão essencial no sistema atual?
A população precisa aprender: a compreender, a discernir, a escolher pelo bem do coletivo, e não para o privilégio de poucos. Enquanto não aprender, vai continuar sendo tangida como o gado.
Mário Sérgio de Melo é Professor aposentado do Departamento de Geociências da UEPG