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Capital eleitoral e capital civilizacional

Imagem ilustrativa da imagem Capital eleitoral e capital civilizacional
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Por: Mário Sérgio de Melo

Outro dia escutei a expressão “capital eleitoral”, em meio às conversas sobre as eleições deste ano. A expressão foi usada com o sentido de capacidade de um candidato traduzir-se em votos, seja pela notoriedade ou força e pluralidade dos apoios.

A expressão fez-me cismar: o capital eleitoral não é um inibidor de um outro capital, vamos chamá-lo de “capital civilizacional”? O político notório, já conhecido de outras eleições e mandatos, é o melhor? Não seria preferível dar voz e liderança a novos políticos? Não é sabido que o político de carreira tende a viciar, desviando o foco de ideais sociais legítimos no início, para, com o tempo, reles disputas eleitorais? Não são muitos os que defendem o fim da reeleição, justamente para que haja renovação? Não é sabido que a “notoriedade” amiúde é comprada com conluios midiáticos e apoios financeiros criminosos?

Ademais, a precária democracia representativa que vivemos hoje, responsável por muitos dos vícios dos políticos, privilegia os já ocupantes de cargos. Verbas, recursos, benefícios favorecem os que têm mandatos. E as leis que mantêm esses privilégios são “eleitas” em escolhas às vezes secretas, nos parlamentos. Como é possível, numa democracia representativa, os supostos representantes do povo votarem secreto? Então deixou de ser representativa, passou a ser corporativista, fisiológica, clientelista.

E o que seria o tal “capital civilizacional”? Em primeiro lugar, seria o fazer boa política sempre, e não só às vésperas de eleições. Esta última é a política eleitoreira, que pode perpetuar os políticos que não têm ideia do que seja o espírito público. A política civilizatória atuaria continuamente, formando consciência histórica, social, cultural, ambiental, econômica... Ou seja, uma real educação para a civilização, visando reduzir os conflitos resultantes das injustiças e da escandalosa concentração da renda. Talvez o capital civilizacional não desse resultado eleitoral nas próximas eleições; mas alimentaria uma consciência política mais duradoura e consistente, mais refratária às manipulações, ilusões e logros midiáticos destinados a eleger lobos para cuidar do rebanho de cordeiros.

Acreditar e abraçar o investimento no capital civilizacional é um desafio considerável. O ser humano não tem paciência de aguardar resultados a longo prazo. Queremos plantar a árvore e colher logo seus frutos. Falta-nos humildade, e, sobretudo, solidariedade e verdadeiro espírito público. A regra geral entre os seres humanos, e os políticos atuais, é a meta eleitoral, não a meta social, civilizatória. Não costumamos plantar para que toda a sociedade colha os frutos. Plantamos para que nós mesmos, e nossos apaniguados, sejamos os beneficiados.

Enquanto priorizarmos o capital eleitoral e não o capital civilizacional, a sociedade que vivemos continuará vítima das distorções e conflitos que ela mesma gera: ignorância, desmandos, tiranias, criminalidade, guerras, crises ambientais, sanitárias...

*O autor é geólogo e professor aposentado do Departamento de Geociências da UEPG.

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