Debates
Encruzilhada
Da Redação | 12 de agosto de 2022 - 00:03
Por Mário Sérgio de Melo
A vida, a existência, parece mesmo uma sucessão de
encruzilhadas. Escolhas nem sempre lúcidas ou planejadas, mas que ditam o
porvir. Não só aquelas decisões que vão definindo o caminho que trilhamos ao
longo de nossa presença terrestre, mas também aquelas decisões que engendraram
o terceiro planeta do sistema solar da galáxia espiral, ou ocasionaram a
fortuita e precisa rota do meteorito que extinguiu os grandes répteis e iniciou
a era dos mamíferos.
No livro/filme Contato, ficção de autoria do astrônomo Carl
Sagan, a protagonista, questionada sobre o que perguntaria a um interlocutor de
uma civilização extraterrestre milênios mais evoluída que a humanidade,
responde: ─ “Perguntaria como fizeram para sobreviver à adolescência de sua
civilização. É na adolescência, de um jovem indivíduo ou de uma jovem
civilização, que muitas encruzilhadas se apresentam.
Quais escolhas temos feito diante das encruzilhadas que têm
aparecido em nosso caminho? Entre o amor e o ódio? Entre a verdade e a mentira?
Entre a essência e a aparência? Entre a autenticidade e a hipocrisia? Entre o
sonho e a desesperança? Entre a luz e as trevas? Entre o cuidado e a incúria?
Entre a sobriedade e a dilapidação? Os seres humanos parecem estar capitulando
perante a obstinação e a sofreguidão dos opressores e oportunistas. Parecemos
povos escravizados, que desistiram da liberdade e da dignidade. Compactuamos
com os que nos dominam, e que nos prometem privilégios. Ou nos rendemos aos
déspotas e truculentos, ou nos aliamos a eles. Exagero? Se não é assim para
todos, é pelo menos para uma boa parte da população atual do mundo.
E as nações, cuja população escolhe seus mandatários? Hoje
há uma nação hegemônica, empenhada em disseminar a cizânia e a guerra pelas
outras nações do mundo. O velho axioma “dividir para dominar”. E as nações
dominadas deixam-se cair nas tramas engendradas pela grande ave de rapina
mundial. Guerreiam internamente em lutas fratricidas, ou batem-se com nações
vizinhas e antes aliadas, por discórdias fomentadas desde a capital do império,
por meio de sofisticada tecnologia de desinformação e intriga. Tem sido assim
em muitos lugares do planeta, destacando-se Vietnã do Sul x Vietnã do Norte, Coréia
do Sul x Coréia do Norte, Irã x Iraque, Rússia x Ucrânia, China x Taiwan, China
x Japão...
Nas encruzilhadas que temos encontrado, somos induzidos a
escolher o caminho que nos leva à submissão, à perpetuação do papel de escravos
que labutam pela riqueza e bem estar dos dissimulados senhorios. É assim quando
escolhemos em quem votamos. É assim quando escolhemos em quais causas
acreditar. É assim quando escolhemos calar. É assim quando escolhemos obedecer
aos comandos midiáticos para consumir, para ignorar, para desrespeitar, para
depredar, para amedrontar-se, para odiar, para omitir-se...
É hora de, diante da encruzilhada, enfim nos perguntarmos
qual caminho queremos seguir. E por que seguir esse caminho, ainda que ele nos
pareça ser o mais difícil.
Mário Sérgio de Melo é Professor aposentado do Departamento de Geociências da UEPG