Debates
Adeus à máscara e à covid
Da Redação | 17 de maio de 2022 - 01:26
Por Fernando Rizzolo
Ontem fui à casa de um amigo, pois fui convidado a uma
confraternização no salão de festas do seu prédio pela passagem do seu
aniversário. São aqueles compromissos aos quais a gente não pode faltar,
afinal, são anos de amizade. Já no caminho, a primeira coisa que me veio à
mente foi: chego de máscara ou não? E se ninguém estiver de máscara e eu chegar
vedado, serei o hipocondríaco da festa? Mas, como não costumo ficar
conjecturando no trânsito, preferi conferir no bolso e certificar-me de que
minha máscara estava bem ali, ao meu alcance.
Chegando lá, ao abrir a porta do salão, apertei minha
máscara no bolso de ansiedade. Dito e feito, eram mais de cem convidados, todos
sem proteção e bem à vontade, rindo e bebendo. Obviamente me senti aquele
sujeito que no frio resolve entrar numa piscina gelada, mas com aquele ar de
segurança de fazer inveja a bolsonaristas negacionistas.
Sorri, cumprimentei os que eu conhecia e tentei relaxar,
mantendo a calma e respirando o frescor do ar dos sorrisos, dos abraços, das
janelas fechadas e da frieza do ar-condicionado. Afinal, pensei naquela velha
frase: “Se tiver que pegar, já peguei”.
É curioso observar que as pessoas atualmente acreditam que a
pandemia de covid é coisa do passado, e que existe no inconsciente coletivo um
certo policiamento em observar que quem está de máscara neste momento e em
lugar social é quase um mal-educado. Os que tentavam entrar de máscara logo se
intimidavam e sutilmente a tiravam e sorriam forçados.
Dizem que “onde há fumaça, há fogo”, e não é pra menos que,
quando sento na minha velha poltrona e assisto às cenas atuais de “lockdown da
China”, com todo aquele rigor, desconfio de que algo está errado, e que logo,
por aqui e em outros lugares do mundo, outra bomba de vírus surgirá.
O Brasil registrou um aumento de 29% na média móvel de novos
casos de pessoas infectadas pelo Sars-Cov2 em relação a duas semanas atrás. As
informações são recolhidas pelo consórcio de veículos de imprensa diariamente
com as Secretarias de Saúde estaduais. Já os dados da vacinação contra covid
foram afetados pelo ataque hacker ao sistema do Ministério da Saúde, ocorrido
em dezembro e que levou à falta de atualização em diversos estados por longos
períodos de tempo. Além disso, uma pesquisa da UFMG mostra subnotificação de
casos de covid em 2020 nas cidades de Belo Horizonte, Salvador e Natal.
A pergunta que não quer calar é a seguinte: Com o novo
aumento de casos de covid-19 acima mencionado, que são relativamente consideráveis,
e com a ocorrência de subnotificações, agregados ao fato de uma nova pandemia
na China, o que têm a dizer aqueles responsáveis pelo poder público e
candidatos que aboliram a obrigatoriedade das máscaras? Assim como o governo
federal, que aposta no não retorno do vírus em nível pandêmico?
Talvez as cenas de lockdown rigoroso na China estejam nos mandando um sutil recado do ponto de vista sanitário. Mas, em época de eleição, tudo é válido, até confraternizar em aniversários com uma mão na taça e outra no bolso, sentindo uma máscara que implora para ser utilizada, e eu na verdade não vendo a hora de ir embora. Agora só me resta aguardar 10 dias e ver se aqueles “parabéns a você” não me fizeram mal...
Fernando Rizzolo é advogado, jornalista, mestre em Direitos
Fundamentais.