Debates
Vínculo afetivo entre gerações
Da Redação | 24 de julho de 2021 - 02:47
Por Elaine Ribeiro
Nossa história de vida é marcada por laços familiares e herança daqueles que nos formaram e deixaram em nós suas histórias. Neste tempo de pandemia, em que tantas mudanças nos foram impostas, esses laços podem ter sido abalados pela necessidade da separação de nossos familiares e amigos.
Por amor e pelo desejo de cuidar, fomos afastados daqueles
que mais amamos e, com isso, sofremos pela distância. Muitos relatam a dor pelo
afastamento, que se deu, em especial, com os mais velhos ou de saúde mais
frágil.
Para muitas famílias, os avós fazem parte de uma rede de
apoio familiar, uma vez que muitos netos são cuidados por eles enquanto os
filhos trabalham. E, nesse tempo de readaptação, não foi apenas a falta do
cuidado, mas a falta da troca afetiva no desenvolvimento dos netos que chegou
para muitos de forma muito complicada.
Ao passo que a vacinação avança e nos traz um pouco mais de
tranquilidade para o convívio, com os devidos cuidados para a reaproximação,
vamos retomando a vida, os laços, particularmente, com nossos avôs e avós.
Nessa reaproximação é preciso que se avalie bem a condição
clínica daqueles que forem se reaproximar dos avós. Se eles cuidam de seus
filhos, seja zeloso ao pensar que nem sempre eles poderão estar por perto, caso
surja alguma alteração de saúde.
É importante destacar a relação de cumplicidade existente
entre avós e netos, sendo uma das heranças mais bonitas existentes em uma
família. É no relacionamento com os avós que temos contato direto com nossa
história e vamos reconhecendo em nós cada jeito de ser, formas de expor e até
mesmo falar, costumes alimentares, hábitos de vida.
Por isso, que possamos refletir sobre como é bom conviver
com nossos idosos! Os avós trazem história, memória e experiências. Embora
minha avó tenha falecido há muito tempo, trago bem viva em mim as memórias
dessa convivência e do carinho. Por morarmos em cidades diferentes, cada viagem
era um presente. Ah, quanta saudade! Como é bom e importante aproveitar a
presença viva e intensa dos avós.
Num tempo onde falamos tanto sobre as diferenças entre
gerações, ao ponto até mesmo de desrespeito entre idades e hierarquia, é
preciso retomar a importância da troca entre gerações. Não se trata de excluir,
mas sim de integrar. E trazer nossos avós novamente para as relações familiares
significa ainda colaborar para a boa saúde emocional.
Na minha prática clínica, foi muito comum perceber queixas
de depressão, ansiedade, tristeza, irritabilidade, lapsos de memória, ou seja,
um declínio cognitivo significativo esteve presente em idosos, portanto, todos
nós tivemos sim, perdas emocionais e físicas nesse tempo, que aos poucos e com
todo zelo possível, vão sendo reestabelecidas.
No primeiro Dia Mundial dos Avós e dos Idosos, 25 de julho
de 2021, lembremos das palavras do papa Francisco na sua mensagem para essa
data: “Não importa quantos anos tens, se ainda trabalhas ou não, se ficaste
sozinho ou tens uma família, se te tornaste avó ou avô ainda relativamente
jovem ou já avançado nos anos, se ainda és autônomo ou precisas de ser
assistido, porque não existe uma idade para aposentar-se da tarefa de anunciar
o Evangelho, da tarefa de transmitir as tradições aos netos. É preciso pôr-se a
caminho e, sobretudo, sair de si mesmo para empreender algo de novo”.
Embora a tecnologia seja um grande alívio e fonte de
aproximação, os contatos presenciais, são, sim, fonte essencial no
relacionamento, troca e formação de nossos vínculos afetivos.
Elaine Ribeiro é psicóloga clínica e organizacional da Fundação João Paulo II / Canção Nova.
Instagram @elaineribeiro_psicologa