Debates
Mãe e Trabalhadora na Pandemia
Da Redação | 08 de maio de 2021 - 02:44
Por Relly Amaral Ribeiro
A data é fevereiro de 2020 e faltam alguns dias para o
aniversário dos meus filhos: 8 e 11 anos. Tudo preparado para a comemoração em
um cinema: sala reservada, convites distribuídos, comes e bebes providenciados.
Na TV e na internet as notícias referentes a “esse novo vírus” se multiplicam.
China, Europa e Estados Unidos são os mais afetados.
A data é março de 2020 e se ampliam as notícias dos
primeiros casos do coronavírus no Brasil. A apreensão e a incerteza aumentam em
todos. O pensamento recorrente está em desmarcar a festa dos meninos. Vou ao
trabalho como de costume e lá todos são informados: a partir de hoje,
trabalharemos em home office por tempo indeterminado. Ao buscar os
filhos na escola, foi dada a mesma orientação. Ao chegar em casa, as mães ligam
e mandam mensagens desmarcando a presença no aniversário que, prontamente,
também foi desmarcado por mim.
Assim teve início o meu novo normal, e para tantas mães e
pais pelo Brasil. Março de 2020 foi um momento decisivo que mudou a rotina de
todos. Novos termos e posturas precisaram ser tomadas, adaptadas e aprendidas.
O ensino a distância e o ensino remoto, tão comum para mim – professora e
pesquisadora na área desde 2007 – trouxe novos formatos, linguagens,
iniciativas e perspectivas, que também necessitaram adaptações.
A preocupação com a saúde física e mental dos meus filhos, e
a minha, se tornaram prioridade como nunca. Estar tranquilo e seguro, sentir-se
amado e esperançoso superaram a entrega de tarefas imediatas ou a preocupação
de acordar na hora certa. Somos uma equipe de afazeres domésticos e afetos.
Nesse cenário, o mundo começa a discutir o impacto da
pandemia na vida dos pais. Na pesquisa nacional realizada pelo grupo Parent
in Science, que obteve mais de 15 mil respostas, é reforçada a questão de
gênero, apontando que as mulheres mães e as mulheres negras foram as mais
prejudicadas em sua produtividade durante a pandemia. Os pesquisadores foram
especialmente atingidos, principalmente mulheres: enquanto somente 70% das
previsões de publicações de artigos científicos de homens foram
cumpridas, o índice entre mulheres pesquisadoras foi de 50%, sendo o fator
idade dos filhos um agravante, pois quanto menor a idade, menor o índice de
produtividade dos responsáveis por eles.
No Reino Unindo, segundo reportagem publicada no
jornal The Guardian, a editora do British Journal for the Philosophy
of Science percebeu que o número de artigos enviados à
publicação e feitos por mulheres havia caído drasticamente, o que não tem
acontecido com os homens.
Sendo assim, neste Dia das Mães, gostaria de deixar um
recado para todas as mães trabalhadoras como eu: o maior e melhor trabalho é
este que vocês têm feito no dia a dia, mantendo os seus filhos e afetos
saudáveis e à salvo. Porque isso sim é duradouro. Outro emprego pode vir,
outras amizades também, outras oportunidades de sair, pessoas e lugares para
conhecer surgirão, mas seus filhos e amores permanecerão. Eles são o futuro que
o Brasil precisará para se reconstruir e se recompor quando isso tudo passar.
Então, cuidem-se, mantenham-se felizes, com a saúde física, emocional e
espiritual em dia. Porque muitos dependem das mães e mulheres, das nossas permanências
e constâncias. Para que nosso futuro aconteça, é necessário que você se
mantenha bem!
(*) Relly Amaral Ribeiro é Mestre em Serviço Social e
Política Social pela Universidade Estadual de Londrina e Tutora dos cursos de
pós-graduação em Serviço Social do Centro Universitário Internacional UNINTER