Debates
Lula de volta ao jogo?
Da Redação | 13 de março de 2021 - 01:39
Por Rodrigo Augusto Prando
Não faz muito, relembrei a frase de Pedro Malan, economista
e ex-ministro de FHC, que, no Brasil, até o passado é incerto. Escrevi, há
tempos, quando da condenação de Lula na segunda instância, que, dada a
sentença, as demais investigações e sua idade, seria pouco provável que ele
continuasse viável eleitoralmente, embora fosse capaz de manter a liderança no
PT. Mas, de lá para cá tivemos a eleição de Bolsonaro, seu estilo de
presidencialismo de confrontação, uma pandemia com resultados catastróficos
para o Brasil e, hoje, a decisão do Ministro do Supremo Tribunal Federal, Edson
Facchin, que anulou todas as condenações da Lava Jato e tornou, novamente, Lula
elegível.
Em campos do Direito e da Política não há ciência exata. Portanto, na dimensão
jurídica a decisão do Ministro Facchin será problematizada, corroborada e
contestada, por juristas, aqui e alhures. Não tenho, neste texto, a mínima
pretensão de adentrar neste terreno e isso se dá por absoluta falta de
competência no tema. Contudo, posso, talvez, arriscar algumas ponderações no
campo político acerca do cenário em tela. Há muitos analistas que afirmam - não
sem razão - que o lulopetismo e o bolsonarismo, cada um à sua maneira, se
retroalimentam dos discursos polarizadores.
Retomando a trajetória política de Lula, sua inserção na vida pública e
política, via sindicato, e a fundação do PT, indicam que sua liderança foi,
quase sempre, "soberana" no partido. Como afirmava Maquiavel, o
estudo da política se concentra naquilo que "é" e não naquilo que
"deveria ser". Em termos concretos, desde 1989, portanto em toda Nova
República, o PT colocou Lula, depois Dilma e Haddad no plano principal das
disputas presidenciais. Desta forma, desconsiderar o PT e, agora, Lula, seria
desprezar os dados da realidade nas últimas três décadas de política nacional.
Em recente pesquisa (07/03/21), o Ipec constatou que cerca de 50% dos
entrevistados afirmaram que votariam com certeza ou que poderiam votar em Lula
caso voltasse a ser candidato à presidência.
Na referida pesquisa, buscou-se aferir o potencial de voto de nomes para 2022
e, no caso, Lula é o candidato que aparece com maior potencial de voto, seguido
de Bolsonaro. A pesquisa, todavia, não desenha cenários de confrontos diretos
entre os possíveis candidatos, até porque nas pesquisas de intenção de voto,
Bolsonaro sempre aparece à frente. Bolsonaro que sempre manteve uma base fiel
de cerca de 30% de apoio vem, aos poucos, perdendo capital político e,
provavelmente, a falta de liderança política no enfrentamento da pandemia,
elevadíssimo número de mortos, falta de vacinas e confrontos com governadores e
prefeitos começam a minar - não a ponto de ruir - os alicerces de sustentação
do atual governo.
Será, realmente, que Bolsonaro gostaria de Lula contra ele em 2022? Teriam os
argumentos da força da Lava Jato, do desgaste do PT, impeachment de Dilma, da
corrupção a mesma eficácia que tiveram em 2018? Pesquisas sempre indicam que o
estilo, às vezes, insensível e tosco de Bolsonaro é entendido como alguém
autêntico, sincero. Essa imagem sobreviverá a tudo que disse e fez durante seu
governo? Lula, sabidamente, tem liderança, carisma, o dom da oratória e gosta
dos debates políticos. Bolsonaro aceitaria debater com Lula? Se já não era
fácil para uma candidatura de centro, distante de Lula e do PT e do
bolsonarismo, se firmar, agora, com Lula no tabuleiro político tudo muda de
patamar.
Por fim, como se comportarão os militares com Lula de volta ao jogo?
Manter-se-ão como instituições de Estado ou abraçarão abertamente o projeto de
poder bolsonarista?
Rodrigo Augusto Prando é professor e pesquisador da Universidade
Presbiteriana Mackenzie, do Centro de Ciências Sociais e Aplicadas.
Graduado em Ciências Sociais, Mestre e Doutor em Sociologia, pela Unesp de
Araraquara.