Debates
Vacina Eleitoral
Da Redação | 18 de fevereiro de 2021 - 02:01
Por Márcio Coimbra
A verdade é que o Brasil está mergulhado na pior crise
econômica da sua história. Se a pandemia acabou com qualquer medida de ajuste
fiscal do governo, na arena política o Planalto se esforçou pouco até aqui para
passar reformas robustas. Isto significa que entramos no terceiro ano de
governo em uma situação muito frágil, que pode gerar efeitos preocupantes para
Bolsonaro no ano eleitoral.
A economia brasileira não entrou em colapso no ano que passou em razão do
auxílio emergencial, entretanto, os custos deixados nas contas públicas são
assustadores. O deficit beira 1 trilhão de reais. Uma fatura que afasta
investimentos, gera desequilíbrios fiscais e deixa uma dívida enorme a ser paga
no futuro. A retomada da economia, portanto, tornou-se peça fundamental deste
jogo.
Fato é que não haverá recuperação econômica sem vacinação em massa. Aqueles
países capazes de imunizar sua população mais rapidamente, são os mesmos que
deixarão o caos gerado na economia para trás em menor espaço de tempo. Se 2020
foi o ano do auxílio emergencial, 2021 precisa ser o ano da vacinação. Do
contrário, seguiremos reféns de um ciclo de auxílios que inviabilizarão as
contas públicas.
Faltou, entretanto, um plano estratégico para o Brasil, um movimento simples
que poderia ajudar a salvar vidas, mas também as contas do governo. Ao optar
por tratamentos alternativos e ignorar as vacinas como método eficaz de
imunização coletiva, o país ficou para trás. Se hoje faltam vacinas e o governo
é pressionado a adotar um novo auxílio, este é resultado de uma opção
equivocada que agora cobra seu preço.
O problema vai além. Se faltam vacinas, faltará também auxílio-emergencial nos
patamares de 2020. Se no ano que passou foi possível segurar o impacto do tombo
econômico, neste ano, com um valor menor, será possível apenas amortecer de
leve a queda, pois rumamos novamente para uma situação preocupante. Uma
expansão real da atividade econômica somente será atingida com vacinação em
massa. Vacinação significa economia retomada.
Todo este caminho pode afetar o resultado das urnas em 2022. Não somente pelo
assustador número de mortos, mas pela profundidade do fosso econômico em que o
país estará metido. Bolsonaro irá encarar as urnas praticamente sem qualquer
crescimento econômico em quatro anos, com poder de compra e renda da população
comprometidos e uma popularidade artificial que somente se manteve turbinada
por um auxílio emergencial impossível de ser prorrogado novamente.
Isto gera enorme incerteza sobre o quadro sucessório. Mesmo apoiado pelo
centrão e impulsionado pelas redes ideológicas bolsonaristas, o caminho
eleitoral do capitão tende a ser duro e complicado. O brasileiro vota com o
bolso e a economia certamente não será um ativo que possa ser usado a seu
favor.
Estamos diante de uma crise econômica séria que precisa de mais ação e menos
discursos. Se Bolsonaro não reorientar seu governo para o caminho certo, com
uma agenda definida, as chances em 2022 tornam-se cada vez mais distantes. As
próximas eleições não serão definidas pela lacração das redes sociais, mas por
seriedade, comprometimento diante da pandemia e melhora real da economia, uma
verdadeira vacina eleitoral. Desta realidade, nenhum postulante ao Planalto conseguirá
escapar.
Márcio Coimbra é coordenador da pós-graduação em Relações Institucionais e
Governamentais da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília, Cientista
Político, mestre em Ação Política pela Universidad Rey Juan Carlos (2007).
Ex-Diretor da Apex-Brasil. Diretor-Executivo do Interlegis no Senado Federal.