Debates
O comércio futuro
Da Redação | 25 de setembro de 2020 - 01:55
Por Darci Piana
Em toda a minha trajetória na atividade comercial e, desde
2004, à frente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Paraná,
jamais imaginei presenciar um cenário tão alarmante e desafiador. Há meses
vivemos à sombra de uma ameaça invisível, que transformou radicalmente as
relações sociais, a economia e o comércio.
A pandemia forçou a migração dos negócios para o universo
on-line, que deixou de ser opção secundária. As empresas começaram a aprender
que é importante abandonar a "gambiarra digital" desde já. Ou é
verdadeiramente on-line ou não é. Plataformas digitais competentes, mesmo que
sejam pequenas, são as que vão sobreviver. Não existe setor da economia ou
tamanho de negócio que possa afirmar não ter necessidade de investir no
digital. Empresas que pensarem assim estarão fadadas à ruína.
Isolado, na segurança de sua casa, o consumidor foi impelido
para o comércio eletrônico. As empresas que conseguirem proporcionar uma
experiência satisfatória aos seus clientes, em todos os aspectos, não os
perderão para as lojas físicas ao fim da pandemia. Em um futuro mais próximo do
que se imagina, as lojas físicas serão redesenhadas como espaços de
experimentação da marca, enquanto as vendas serão feitas, de fato, nos canais
virtuais.
A transformação abarca pequenos e grandes negócios. Para se
ter uma ideia, 95% das Starbucks foram reabertas na China, mas o movimento é
60% do que era. As pessoas não consomem mais na loja, compram o vão embora. A
gigante das cafeterias deverá rever seu modelo, reduzindo espaços de
convivência.
Os maiores varejistas americanos já demitiram mais de um
milhão de colaboradores e devem reempregar somente 85% deles no fim da crise. A
explicação é que o comércio tradicional vai encolher.
A educação on-line foi posta à prova desde o surgimento da
covid-19, permitindo uma revolução na forma como se aprende em todos os níveis.
A crise trouxe a oportunidade de uma grande mudança nos sistemas de educação e
de saúde, usando tecnologias de aprendizagem digitais para atender a população.
No caso do Senac, posso garantir que ele já está preparado
para esse novo contexto, com instrutores qualificados para atuar no ensino
remoto e implantação de metodologias e ferramentas tecnológicas capazes de
oferecer ao aluno a mais empolgante experiência de aprendizagem digital.
No âmbito do comércio, sai o estoque just in time e entra o
just in case. As empresas aprenderam que precisam ter estoques maiores de
segurança, principalmente quem tem cadeias longas de fornecimento. Os Estados
Unidos desenvolveram uma cadeia de supply com a China nas últimas décadas que
fez os americanos perderem capacidade tecnológica de fabricar no seu próprio
país, ao longo do tempo. Isso vai mudar por questões de segurança. O globalismo
sofrerá um duro revés, substituído pelo protecionismo. Os desalojados pela
falência da antiga indústria norte-americana, há muito com dificuldades para se
recolocar, vão sustentar posições políticas protecionistas – como já ocorreu no
processo que culminou com a eleição do Trump em 2016.
Existem 1.700.000 vírus detectados em animais. Destes, 700
são coronavírus. Temos que aprender com a atual pandemia para estarmos prontos
a enfrentar um surto por década.
Os modos de viver, de se relacionar, de trabalhar, vão mudar
tanto que nós, grosso modo, dividiremos a história em antes e depois do
coronavírus.
Hábitos de viagem mudarão radicalmente. Haverá uma redução
absurda nas viagens de negócios, substituídas pelas videocalls. Viagens de
lazer terão como destino prioritário o interior, junto à natureza, ou a lugares
com baixa concentração de pessoas.
O setor agrícola brasileiro tem uma oportunidade de ouro a
partir de agora. Será necessário investir cada vez mais em tecnologia,
digitalização e na qualificação de seus profissionais e gestores.
Direitos individuais versus saúde serão um dos grandes debates
no mundo, na medida em que rastrear individualmente cada indivíduo torna-se uma
das estratégias mais eficazes de controle nas pandemias. No entanto, esse
rastreamento pode ser usado pelos governos para monitoramento das pessoas,
impondo restrições à liberdade individual.
Conclusão: quem hoje está ocupado, precisa começar a pensar
na sua futura profissão, atualizar-se o tempo todo com as novas tecnologias. As
empresas de educação e o poder público federal precisam se comunicar com o
mercado incessantemente para entender às necessidades e fornecer os conteúdos
demandados, que não são mais o que as universidades entregam hoje aos alunos.
Na sociedade do conhecimento não existe "ex-aluno". Ou você está
aprendendo o tempo todo ou você está desempregado.
Um conselho aos empresários: não vejam a crise como um
momento de cortar custos. Pensem em investir em novas áreas, em novas
tecnologias. Haverá muitas oportunidades para as empresas que se adaptarem em
tempo real. Vamos renascer em um mundo novo, viveremos uma nova rotina. A vida
vai ser diferente. Ninguém sabe exatamente como, mas temos que estar abertos e
preparados para nos adaptar com agilidade, venha o que vier pela frente.