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O lucro das estatais: às custas de quem?
Da Redação | 09 de setembro de 2020 - 02:39
Por
Matéria do Jornal da Manhã de 1º de setembro último traz
foto de outdoor na cidade assinado pelo Sindicato Rural e Associação de
Ministros Evangélicos que diz: “Estatais em 2015: 22 bilhões de prejuízo.
Estatais em 2019: 109 bilhões de lucro”.
Artigo no mesmo jornal três dias depois diz: “Vendas de
subsidiárias da Petrobras afetam o PR”. O tema está preocupando a ALEP, pela relevante
queda no ICMS e corte de milhares de empregos. Convém refletir sobre a relação
entre as duas notícias.
O mau desempenho em 2015 deveu-se principalmente à
Petrobras, a maior estatal brasileira. Ela estava no auge da sabotagem imputada
às empresas brasileiras desde as delações premiadas da Lava Jato. Sobre isto, é
útil a leitura do artigo “Conspiração e corrupção: uma hipótese muito provável”
(https://diplomatique.org.br/conspiracao-e-corrupcao-uma-hipotese-muito-provavel/).
O artigo esclarece como o suposto combate à corrupção está sendo usado para
destruir grandes empresas brasileiras (não só as estatais) e perpetuar o papel
do Brasil como colônia fornecedora de commodities, sobretudo o petróleo.
O suposto “bom desempenho” de 2019 também é devido à
Petrobras. O lucro veio da venda de partes da antes gigante brasileira. A
Petrobras está sendo desmontada.
Esta é a lógica do governo ultraliberal: contam os lucros, e
não seus impactos econômicos e sociais, nem a soberania do país. Quem apóia
esta lógica, como o Sindicato Rural e a AME o fazem ao publicar o enganoso
outdoor na cidade, é cúmplice da permanência do país num estágio de submissão, exclusão
e desigualdade social que só traz mais conflitos, insegurança e atraso. A discrepância
social no Brasil já é abismal. Apoiar medidas que a agravam é uma desumana temeridade,
um arroubo dos insaciáveis gananciosos ávidos de vantagens pessoais.
O governo ultraliberal atual, que chegou ao poder graças à
ingerência externa via cooptação de parte do Estado e da disseminação de
mentiras, está tentando maquiar as contas do país com medidas que só prejudicam
a população trabalhadora, e favorecem interesses transnacionais: congelamento
do investimento em educação, saúde, pesquisa, cultura, infraestrutura, programas
sociais e dos salários do funcionalismo (mas não de políticos, militares e
judiciário), uberização do trabalho, novas taxações, aumento de tarifas,
restrições à aposentadoria, venda das estatais, etc. Enquanto protela mudanças vitais,
como a taxação de rentistas e fortunas, a revisão do imposto de renda e dos
benefícios da elite.
Há outras considerações a fazer quando se fala em lucro das
estatais. Guilherme Estrella, ex-presidente da Petrobras, alerta que a
contratação de uma plataforma de exploração de petróleo em estaleiros
brasileiros custava mais caro que comprar a mesma plataforma de um estaleiro na
Ásia. Porque lá eles usam mão de obra quase escrava, e no Brasil as plataformas
eram fabricadas por operários com direitos trabalhistas, resultando num encadeamento
de benefícios econômicos e sociais.
Mas isso ficou para trás.
Mário Sérgio de Melo é Geólogo, professor aposentado do Departamento de Geociências da UEPG
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