Debates
O papel da instituição financeira cooperativa no desenvolvimento econômico e social das regiões
Da Redação | 15 de agosto de 2020 - 04:17
Por Cesar Gioda Bochi
Enxergar a relevância de uma agência bancária ou de cooperativa
para além dos produtos oferecidos por ela pode ser desafiador para a maioria
das pessoas. No entanto, cresce a consciência de que por trás de agências,
soluções, sistemas e aplicativos, há muitas instituições financeiras com papel
social, geradoras de impactos nas regiões onde atuam. Em especial, o
Cooperativismo de Crédito está bastante avançado nesse sentido, se
caracterizando por propiciar um relacionamento mais próximo ao associado, que
não é cliente, mas o próprio dono do negócio.
No Brasil, com 11 milhões de associados, o segmento tem
crescido consistentemente, mas o espaço que ocupa no sistema financeiro ainda é
pequeno, perto do seu potencial, como os números dos países desenvolvidos
demonstram. Mesmo assim, o impacto gerado pela sua atuação na economia do país
já é muito relevante e pode ser demonstrado por meio de dados oficiais. De um
lado temos o ótimo trabalho feito pelo Banco Central em reunir informações
sobre o avanço do cooperativismo de crédito pelo país e a própria Agenda BC#,
que traz o segmento como um pilar importante para a inclusão financeira e
consequentemente para o crescimento econômico. De outro, percebemos que as
instituições financeiras que atuam nesse modelo estão muito mais empenhadas na
produção de dados e estudos que possam demonstrar os benefícios da sua atuação.
As duas pesquisas anunciadas pelo Sicredi neste ano são um
bom exemplo disso. Uma delas, de autoria da Fundação Instituto de Pesquisas
Econômicas (Fipe), avaliou dados econômicos de todas as cidades brasileiras com
e sem cooperativa de crédito entre 1994 e 2017 e cruzou informações do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), evidenciando que o
cooperativismo de crédito incrementa o PIB per capita dos municípios em 5,6%,
cria 6,2% mais vagas de trabalho formal e aumenta o número de estabelecimentos
comerciais em 15,7%, estimulando o empreendedorismo local.
Outro estudo, conduzido a pedido do Sicredi pelo
especialista em Microeconomia Aplicada e Desenvolvimento Econômico, Juliano
Assunção, pesquisador do Departamento de Economia da Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), mostrou que o cooperativismo de crédito é
um dos mecanismos mais eficazes para promover acesso aos serviços financeiros
às pessoas em municípios menores, mais distantes e rurais do Brasil. Segundo o
estudo, enquanto bancos tradicionais têm em média um limite mínimo de 8 mil
habitantes para abrir uma agência, uma cooperativa de crédito tem capacidade de
abertura em municípios a partir de 2,3 mil habitantes. A comparação em termos
de renda também chamou atenção, apontando que as cooperativas conseguem operar
em cidades com PIB a partir de R$ 79 milhões, enquanto para os bancos públicos
é necessário um PIB mínimo R$ 146 milhões e para um banco privado, R$ 220 milhões.
A razão para esses resultados é a proximidade com os
associados, como apontou a Fipe, tendo um diferencial importante na concessão
de crédito, conhecendo a realidade de cada um para poder tanto aconselhar
corretamente, quanto medir melhor os riscos. Além disso, a cooperativa coloca o
associado no centro das decisões, de tal forma que ele participa ativamente dos
rumos do negócio. Isso faz com que a abertura de uma agência em um local
longínquo não passe apenas por um estudo de viabilidade financeira em que o
resultado financeiro ao longo dos anos tem que ser maior que o custo de capital
e o risco da operação. Havendo intenção da sociedade e não onerando os demais
associados, uma agência cooperativa pode se concretizar. Essas características
fazem com que elas sejam instaladas em locais mais distantes do que os
alcançados pelos bancos privados, que são, normalmente, os que mais carecem de
serviços financeiros.
No contexto atual de pandemia, olhando as regiões mais
remotas e menores, é ainda mais evidente a importância das instituições
financeiras, especialmente, das cooperativas de crédito. Os dados apresentados
a partir de estudos do professor Juliano Assunção têm grande potencial para,
além de mostrar os benefícios do modelo cooperativista, apoiar na organização
de políticas públicas de apoio à população, por exemplo. A capilaridade da
atuação das cooperativas de crédito, comprovada pelos estudos, é um instrumento
valioso no que tange ao acesso ao sistema financeiro, na distribuição de
benefícios e linhas de crédito.
Dessa forma, o movimento que visa ampliar a percepção da sociedade sobre as instituições financeiras cooperativas a partir da produção e análise de dados pode, muito mais do que ratificar o que já é dito e sentido pelas comunidades locais, contribuir cada vez mais com a resolução de desafios importantes da agenda econômica nacional como a inclusão e educação financeira e a geração de renda local. Nesse sentido, os estudos têm também o papel de comprovar cientificamente o que é sabido, fomentado e realizado há mais de um século pelas cooperativas de crédito no Brasil.
*Cesar Gioda Bochi é diretor executivo de Administração do
Sicredi