Debates
A reforma tributária no cenário pós-Covid: novas definições, mas nenhuma alavanca econômica
Da Redação | 31 de julho de 2020 - 01:05
Por Giuliano K. Gioia
A crise de saúde pública com a pandemia da Covid-19 não
poderia ter outro efeito a não ser uma crise econômica. Inevitavelmente, o
Produto Interno Bruto brasileiro enfrentará uma retração que há anos não
víamos. Num cenário animador, a Fundação Getúlio Vargas (FGV) divulgou uma
projeção de recessão em torno de 4,4%.
Neste cenário nebuloso, o desemprego se torna o protagonista e com ele uma
espiral de impactos no mercado. Essa discussão coloca no holofote o governo,
que deve apresentar caminhos para uma retomada econômica mais efetiva e com
menos danos à população. Mas como isso será possível?
A primeira missão é criar propostas efetivas para a reforma tributária, que foi
paralisada com a chegada da pandemia e agora toma novas proporções, inclusive
políticas. Enxugar os tributos e onerar menos as empresas seria o primeiro
passo para uma alavancagem do mercado, que espera medidas com efeito
socioeconômico imediato.
Até então, tínhamos a discussão sobre a adoção de um imposto único, o IBS
(Imposto de bens e Serviços), seja em substituição a cinco ou a nove tributos
federais, estaduais e municipais. Agora, o ministro da economia, Paulo Guedes,
acaba de apresentar a primeira parte da reforma unificando apenas dois tributos
federais, o PIS e o Cofins em um só, chamado de Contribuição de Bens e Serviços
(CBS). O caminho da aprovação pode ser mais facilitado por não envolver
tributos estaduais e municipais, além de visar principalmente a
desburocratização do sistema.
Porém, qualquer que seja a mudança, ela não reduz os encargos, ou seja, as
empresas continuariam pagando a mesma alíquota, mas de forma simplificada,
reduzindo o contencioso tributário. Mas a questão central aqui, quando pensamos
em qualquer mudança, seria atingir um equilíbrio fiscal, tanto do ponto de
vista das empresas, quanto das pessoas. Ou seja, é preciso eliminar as
cobranças desiguais entre diferentes setores, além de reduzir a desigualdade
social, que é o mais importante.
Pelo andar da carruagem, com esta proposta atual de unificação apenas do PIS e
Cofins, teríamos alguns setores sendo onerados, como o de serviços, um dos
principais prejudicados na pandemia do Coronavírus. Entre motivos mais
políticos do que econômicos, o que vemos são iniciativas que neste momento
acabam não impactando positivamente no bolso, o que seria mais indicado para
alavancarmos nossa economia.
Entre as idas e vindas de propostas e aprovações, a única saída que cabe ao
contribuinte é buscar entender como pode melhorar seu caixa por meio de
recuperações de impostos, arrecadações gerenciadas para fazer uso de alguns
benefícios concedidos pelo governo e por fim, mas não menos importante,
tributar corretamente seus produtos e serviços evitando que a falta de
informação traga complicações ou aumento no custo da empresa. Por hora, essa é
a única saída que temos até que tenhamos novas definições propostas.
Giuliano K. Gioia é especialista fiscal na Sovos Taxweb, pioneira em Digital
Tax para o Compliance Fiscal das empresas.