Debates
Máscaras, luvas e o impacto ambiental
Da Redação | 21 de julho de 2020 - 03:33

Por Augusto Lima da Silveira
Desde que a pandemia do novo coronavírus mudou a nossa forma
de viver em sociedade, podemos observar comportamentos que há pouco seriam
impensáveis. As medidas de proteção para minimizar o contágio pela COVID-19 já
fazem parte da rotina de uma parcela significativa da população. Produtos como
o álcool 70%, máscaras e luvas de proteção integram a lista de compras em lares
do mundo todo. O aumento no consumo destes materiais refletiu na quantidade e
no tipo de resíduos que estamos produzindo para adotar tais medidas de
segurança.
A falta da Educação Ambiental e de campanhas para a
sensibilização da sociedade em relação aos resíduos sólidos, cobra mais uma vez
o seu preço. É neste cenário de pandemia que precisamos novamente discutir
questões básicas como o descarte correto de materiais, pois as mesmas máscaras
e luvas que minimizam os riscos de contágio da doença agora são também
descartadas nas ruas pela população.
Plásticos como o propileno e elastômeros como o látex fazem
parte da composição desses materiais de proteção. Quando descartados, geram
impactos ambientais típicos dos plásticos, apresentando inclusive o mesmo tempo
de decomposição que varia entre 300 a 400 anos. Esse hábito agrava ainda mais a
questão da contaminação do meio ambiente, além de apresentar sérios riscos à
saúde pública. Quando os materiais de proteção chegam em locais inadequados,
como as ruas das cidades, podem causar vários problemas, dos quais destacaremos
três.
O primeiro deles, mais imediato, é a criação de novos focos
de transmissão da doença, considerando o alto poder de disseminação do novo
coronavírus e a contaminação dos materiais de proteção. O segundo problema está
relacionado à chegada de luvas e máscaras em recursos hídricos, o que pode
afetar a qualidade da água, impactar nos sistemas de tratamento e, além disso
podem ser confundidos com alimentos e ingeridos pelos organismos aquáticos. O
terceiro problema do descarte incorreto está na questão dos microplásticos.
Quando materiais como o propileno chegam ao ambiente iniciam o processo de
fragmentação, a primeira etapa da decomposição. Nesse processo as condições
ambientais resultam na quebra do plástico em micropartículas que podem se
acumular em organismos aquáticos. A preocupação neste caso, reside no fato de
que nós seres humanos consumimos organismos aquáticos e há indícios científicos
de que potencialmente estamos mais susceptíveis ao desenvolvimento da
obesidade, infertilidade e até câncer ao ingerir os microplásticos na alimentação.
Considerando esse cenário preocupante, precisamos mais uma
vez falar a respeito da nossa responsabilidade ao descartar esses materiais. As
consequências pela atual falta de cuidado podem futuramente comprometer a nossa
saúde e a qualidade de vida. As melhores formas de minimizar esses impactos
ambientais, para aqueles que não trabalham em serviços de saúde são a
preferência pelas máscaras de tecido, que podem ser reaproveitadas, e optar
pela higienização das mãos ao uso de luvas, pois são mais adequadas àqueles que
necessitam lidar diretamente com os acometidos pela COVID-19.
Augusto Lima da Silveira é coordenador do Curso
Superior Tecnologia em Saneamento Ambiental na modalidade a distância do Centro
Universitário Internacional Uninter e Doutorando em Ecologia e Conservação.