Debates
Mobilidade Urbana: novos caminhos, desafios antigos
Da Redação | 21 de setembro de 2019 - 03:20
Nossa sociedade está passando por mudanças significativas
capazes de mudar as características da mobilidade urbana e os rumos do sistema
estrutural dos transportes públicos. As novas soluções que apontam no mercado
nos dão a direção de um cenário com políticas públicas que priorizam inclusão,
qualidade, matrizes energéticas e menos poluentes, trajetos mais curtos e
tempos menores de viagem. Entretanto, apesar da tecnologia que nos permite
melhorar em gestão, controle e na interação com as pessoas, estamos cheios de
desafios pela frente.
Os investimentos ainda são bastante restritos. O sistema
estrutural de transporte – módulos coletivos como ônibus e trens – precisa
ganhar mais espaço. O ponto em que estamos de expansão das cidades não
compromete apenas o espaço físico, mas a qualidade. Durante toda história, os
investimentos públicos foram muito desiguais em relação ao transporte
individual. A sociedade acabou decidindo favorecer o automóvel, que é mais
poluente, congestiona as vias e, portanto, interfere naquilo que é desejável:
cidades mais compactas, sustentáveis e viagens mais rápidas.
Para mudar o rumo, é preciso rever o planejamento de
mobilidade favorecendo modais menos poluentes e estruturando o sistema de
ocupação de maneira mais justa em relação ao número de pessoas que se movimenta
diariamente nas cidades. Está na hora de dar prioridade ao transporte público e
aos modais de mobilidade ativa.
Outro ponto é o custeio. A tarifa pública atende questões de
natureza social e nem sempre cobre custos operacionais. Acontece que, pela
Constituição Federal, o transporte público é um direito social e tem caráter essencial
universal e isso precisa ser garantido de maneira permanente também por meio do
valor da tarifa. Precisamos encontrar caminhos, discutir receitas extras
tarifárias e cobrir o que a tarifa e os subsídios orçamentários não conseguem.
Em grandes capitais mundiais, por exemplo, a tarifa não é paga apenas pelo
usuário, mas parte vem de mecanismos como os impostos embutidos no preço da gasolina
paga pelos automóveis.
Tudo isso tem que passar pelo debate em sociedade. A
população precisa entender porque decisões em função do desestímulo do uso do
automóvel estão sendo tomadas em prol do aprimoramento do transporte público e
do incentivo ao uso de veículos não poluentes. As condições urbanas precisam
favorecer as pessoas e as soluções precisam resolver problemas coletivos. A
todos interessa que a cidade tenha um sistema de transporte racional,
sustentável, de custo baixo e com qualidade para que muito mais gente usufrua, poluindo
menos e chegando mais rápido ao destino.
Nos dias 24, 25 e 26 de setembro levantaremos estas e outras
questões que envolvem o transporte público na Arena ANTP, onde estarão reunidos
especialistas, gestores, operadores e a todos que importa a busca pela
qualidade no setor.
Luiz Carlos Mantovani Néspoli (Branco) – Superintendente da
ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos).