Debates
A Lava Jato, o Brasil e a economia
Da Redação | 24 de agosto de 2019 - 01:07
Por Fernando Rizzolo
Não é possível que alguém negue os benefícios que a Operação
Lava Jato trouxe para o Brasil. Eu mesmo sou um entusiasta que muitos domingos
passei com a bandeira brasileira na avenida Paulista, participando das
convocações dadas pela falta de ética na política e pelas notícias assombrosas
de corrupção no governo petista. Percorria todo o trajeto com o fervor da
mudança para um Brasil mais justo.
E houve a mudança, tanto que esperávamos que o eleito
presidente, Jair Bolsonaro, resolveria tudo num mesclado de ética militar que
me remetia à época dos anos 70, em que realmente éramos felizes, naquele Brasil
que se dizia repressor, mas no qual sobravam empregos.
O interessante é que, ao mesmo tempo em que a Operação Lava
Jato descobria coisas, me questionava se essas coisas nada éticas já não
existiam há muito tempo. E essa dúvida republicana me incomodou a tal ponto
que, de forma abrupta, conflitava com os princípios ético-jurídicos que trazia
da minha formação como advogado.
Do ponto de vista político-jurídico, tudo fazia sentido e
justificava as manifestações, porém o rigor do desmantelamento do polígamo
criminoso petista, que foi exemplar e fruto do mecanismo da delação premiada,
ganhou aos poucos uma nova face de “brilhantismo persecutório”, com a qual, ao
meu ver, extrapolou um pouco, fazendo da Operação Lava Jato uma vertente
“ultrapassante” da sua original proposta.
O que destaco nesta reflexão é que muitos surgiram como
heróis, outros como brilhantes protetores da pátria e um enorme número de
autoridades se projetou através da Operação, prendendo uma quantidade enorme de
pessoas e muitas vezes atropelando o estabelecido no Código de Processo Penal,
além de exagerar nas atribuições magistrais, como ficou público através das
ilícitas, mas perturbadoras, interceptações, daqueles que se atribuem a exegese
do Direito e o papel do magistrado e dos membros do “Parquet” ou do Ministério
Público Federal.
Não quero aqui tecer críticas aos condutores da Operação,
muito menos ao Ministro da Justiça Sérgio Moro, pessoa ilibada, excelente
magistrado, mas me atenho à questão de que devemos nos dirigir, de agora
em diante, para o crescimento e fortalecimento da economia, porque senão o foco
central será uma perpétua Lava Jato, e seu propósito será puramente político, ao
se contornar como uma conquista política, portando-se até como se fosse um
partido político.
A Lava Jato foi sim uma operação exitosa, mas que
praticamente cumpriu seu papel. Temos agora, no âmbito internacional, que
observar e levar adiante a imagem reparadora da corrupção do país e cumprir uma
grande agenda político-econômica de crescimento, de tal sorte que os
investidores tenham a percepção de que o trabalho de corrupção já foi feito,
que estamos com a casa em ordem, temos segurança jurídica e nos encontramos
prontos para receber investimentos.
A nossa indignação um dia nos fez sair às ruas pedindo um
novo Brasil. Portanto, politicamente, mesmo que ainda tenhamos desdobramentos
da Operação, o Brasil não se chama Lava Jato, mas Brasil Novo, passado por uma
limpeza ética e pronto para crescer, afinal, os 13 milhões de desempregados não
podem sonhar para sempre com dias melhores e ser eternamente vítimas da
corrupção que um dia assolou nosso país
Fernando Rizzolo é advogado, jornalista, mestre em Direitos
Fundamentais, Professor de Direito.