Debates
Esclarecendo a polêmica do voto em branco e do voto nulo
Da Redação | 14 de agosto de 2018 - 01:43
Por Edson Elias Saab
Com a aproximação das eleições sempre
surgem pessoas especulando e divulgando informações equivocadas sobre a função
dos Votos Nulos e Brancos. Precisamos entender corretamente o que representam
esses dois tipos de votos e os efeitos relacionados aos mesmos.
O Voto em Branco ocorre quando o eleitor
opta (aperta) a tecla “BRANCO” na urna eletrônica e, ao contrário do que quase
todo mundo pensa, não é computado como voto válido. Segundo a própria regra do
TSE ele representa a não manifestação do eleitor por nenhum dos candidatos.
O Voto Nulo ocorre quando o candidato
digita um número de um candidato que não existe, por exemplo, “000” ou “999” e
depois aperta a tecla “CONFIRMA”. O Voto Nulo também não é considerado válido e
normalmente é divulgado apenas como dado estatístico da manifestação do
eleitor. É a vontade do eleitor em anular o seu voto, seja por ter sido
obrigado a votar ou como voto de protesto.
Existe uma diferença que talvez seja a
origem do falso entendimento a respeito do Voto Nulo, ou seja, o Voto Nulo não
se confunde com a Nulidade do Voto. A Nulidade do Voto acontece, por exemplo,
quando um candidato recebe uma votação majoritária, ou seja, mais de 50% dos
votos e é declarado inelegível, no final dessas eleições, por quaisquer tipos
de situações (mandato cassado, registro indeferido, fraude, coação, utilização
da falsa identidade, etc). Nesse caso o TRE (Tribunal Regional Eleitoral) terá
que definir uma nova eleição entre 20 e 40 dias, segundo o artigo 224 da Lei nº
4.737/65.
Art. 224. Se a nulidade
atingir a mais de metade dos votos do país nas eleições presidenciais, do
Estado nas eleições federais e estaduais ou do município nas eleições
municipais, julgar-se-ão prejudicadas as demais votações e o Tribunal marcará
dia para nova eleição dentro do prazo de 20 (vinte) a 40 (quarenta) dias.
Concluindo, uma eleição não será anulada se
mais de 50% dos votos forem nulos e sim se houver a nulidade do voto.
Se dos 10.000 eleitores válidos, 50
eleitores votarem em branco ou nulo, sobrarão 9.950 votos válidos e ganhará
quem obtiver 50% + 1 desses votos restantes, ou seja 4.976. Se ainda assim
9.000 eleitores votarem em branco ou nulo, sobrarão 1.000 votos válidos e quem
obtiver 500 votos + 1 vence a eleição, ou seja, com 501 votos. Num exemplo
ainda mais radical, se 99% dos votos forem Nulo ou Em Branco, o 1% restante dos
votos válidos serão contabilizados e determinarão o vencedor do pleito.
Apenas a título de curiosidade, antigamente
quando o voto era manual e não existia a tal urna eletrônica, quando o eleitor
deixava a cédula em branco (Voto em Branco), a possibilidade de alguém, no ato
da contabilização dos votos, preencher essa cédula com o nome de algum
candidato era real, mas nesse caso, consistia em pura fraude eleitoral. Eu
mesmo presenciei ao final da apuração dos votos um famoso candidato a vereador
chorando, dando entrevistas e sendo consolado pois não tinha sido eleito com
seus 1.500 votos. Para minha surpresa, uma semana depois, ao ver a
contabilização oficial e a lista dos candidatos eleitos, deparei-me com o nome
do tal candidato, então eleito, com 4.500 votos.
Apesar do voto no Brasil ser obrigatório,
ele é sigiloso e nesse caso o eleitor pode comparecer a cabine de votação e
votar Nulo ou Em Branco, mas com a consciência que esses dois tipos de votos
não atingirá finalidade alguma a não ser o seu inconformismo e insatisfação com
os candidatos ofertados ou atitude de protesto.
Para completar esse esclarecimento e terminar de uma vez por todas com essa polêmica, a contagem dos votos de uma eleição está prevista na Constituição Federal de 1988, Art. 77, $2 que diz: “é eleito o candidato que obtiver a maioria dos votos válidos (somente), excluídos os brancos e os nulos”.
Edson Elias Saab é advogado