Debates
Eleições: economia em alerta
Da Redação | 23 de janeiro de 2018 - 01:19
Por Carlos Sviontek
O ano de 2017 foi de estabilização da economia, com o
controle da inflação e a redução significativa de juros. As equipes lideradas
por Henrique Meirelles (Ministro da Fazenda) e Ilan Goldfajn (Presidente do
Banco Central) iniciaram a recuperação do mercado de crédito e o aumento dos
salários reais, favorecendo o aumento de investimentos e crédito coorporativo.
Mesmo com as notícias positivas no segundo semestre de 2017, as previsões para
o ano de 2018 ainda são nebulosas.
Embora tudo indique que o crescimento do PIB brasileiro em
2018 seja de 2,5 a 3%, as eleições presidenciais, que ocorrerão em outubro (1º
turno), nublam o cenário de médio e longo prazo. Em relação ao pleito, o
mercado tem como maior receio a eleição de um candidato de esquerda (Lula, ou
como segunda opção Ciro Gomes), que provavelmente implicaria em um retrocesso
em todas as mudanças estruturais realizadas pelo atual governo (Teto de gastos,
TLP e Reforma Trabalhista) e em um agravamento do cenário econômico. No outro
extremo da disputa, encontra-se o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ), que embora
tenha tentado emplacar um discurso supostamente ‘liberal’ em alguns eventos,
deu várias demonstrações de ser contrário as reformas e defende com frequência
a intervenção estatal na economia, também visto com maus olhos pelo
mercado.
Seguindo os dados do mercado, o cenário deve permanecer
estável em relação a juros (7% a.a.) e a inflação (4% a.a.), porém deve
encontrar grande volatilidade cambial durante todo o ano. O boletim Focus
(Cerca de cem instituições financeiras ouvidas pela Banco Central) prevê que o
dólar americano deva finalizar o ano de 2018 cotado em R$ 3,30, porém a
oscilação deve quebrar a barreira dos R$ 4 (cenário eleitoral negativo) ou dos
R$ 3 (cenário eleitoral positivo). Pensando nisso, as empresas devem tomar
muito cuidado na hora de captar recursos, principalmente no que se refere ao
índice em que o empréstimo será indexado. Só assim será possível evitar
surpresas no médio prazo com possíveis alterações do próximo governo. Logo o
planejamento de uma dívida estruturada é a opção mais segura para fugir dos
produtos de prateleira de bancos comerciais.
Além das eleições, outros dois fatores complicadores podem
desestabilizar o quadro: a realização das reformas estruturais propostas pelo
governo Temer e o risco associado à classificação do Brasil pelas agências de
rating. A não aprovação da reforma da previdência, a principal em discussão,
poderia representar a gota d’água para o rebaixamento perante as agências, que
por consequência, diminuiria a quantidade de investimentos estrangeiros no país
e também poderia impossibilitar o governo de emitir títulos no exterior,
perdendo uma importante fonte de financiamento.
Ou seja, esse cenário desafiador vai exigir muita maturidade
e paciência de todos os empreendedores brasileiros, principalmente no segundo
semestre do ano. Antes de tomar decisões importantes, será fundamental analisar
os mais variados cenários para que a possível instabilidade do mercado não
acabe gerando grandes perdas.
Carlos Sviontek, diretor da Legacy Partners (www.legacypartners.com.br), é formado em Administração pela universidade Federal do Paraná.