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Coluna MSN: Creio no trabalho

“Só me sinto bem ao lado dos que trabalham”

Miguel Sanches Neto é escritor e reitor da Universidade Estadual de Ponta Grossa
Miguel Sanches Neto é escritor e reitor da Universidade Estadual de Ponta Grossa -

Diz um provérbio: “Não deva favor a pobre nem dinheiro a rico”. Nutro a maior alegria em poder retribuir um favor recebido de alguém em situação menos privilegiada do que a minha. Não significa que sempre consigo, mas ao menos tento. Tenho uma ligação visceral com as classes mais desfavorecidas porque venho delas. Não acho que consegui alguma autonomia social apenas por esforço próprio, por mérito. Balela. Cada pequeno degrau que galguei foi com a ajuda de tanta gente anônima, com a força de pessoas valiosas, com o apoio daqueles que muitas vezes não conseguiram alterar o destino a que estavam presos. Então, devo muito a estes invisíveis.

Há uma segunda coisa importante.

Em um país que tem a escravidão no seu DNA, e que sempre deu poucas chances de mobilidade social à população, desenvolveu-se o que que chamo de “síndrome do agregado”. O agregado é um indivíduo espertalhão que explora economicamente o convívio com os ricos e reforça os seus preconceitos. O modelo literário deste ator é José Dias (no romance Dom Camurro, de Machado de Assis), que, sendo um pobre a viver de favor na casa de Betinho, odeia Capitu por ela não ter berço.

Não padeço deste mal. Meu padrasto sempre nos incentivou a valorizar os trabalhadores. Para mim, a maior nobreza que existe é a da dedicação. Paulo Leminski, meu guru por anos, chamava isso de “a mística do trabalho”. E estava certo. Criamos uma religião do trabalho que nos define.

Havia um programa na Rádio Colmeia, em Campo Mourão, que ouvíamos diariamente. Meu padrasto levantava muito cedo para organizar nossa cerealista antes do horário comercial. Depois ia tomar café em casa e ligava neste programa, quando todos já estavam acordados. Nunca vou me esquecer da abertura: “São sete da manhã no Rancho do Coronel Bastião, está na hora de levantar e trabalhar para a grandeza do Paraná”. Acreditei nisso, e com o tempo fui despertando cada vez mais cedo. Espero que o Paraná tenha melhorado.

Principalmente para os mais pobres.

A quem devemos quase tudo neste país.

Porque dinheiro devemos aos mais ricos, isto é, aos bancos. 

O autor é escritor e reitor da Universidade Estadual de Ponta Grossa. No Instagram: @sanchesnetomiguel; no Facebook: https://pt-br.facebook.com/miguelsanchesneto/; no Twitter: @miguelsanchesnt

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