‘Sem Terra’ diz que PM reagiu a disparos do MST
Integrante do MST, Pedro Francelino afirmou que ação do Pelotão de Polícia Ambiental foi desencadeada por tiros que partiram do movimento.
Publicado: 09/04/2016, 14:32
Integrante do MST, Pedro Francelino afirmou que ação do Pelotão de Polícia Ambiental foi desencadeada por tiros que partiram do movimento.
Um dos depoimentos iniciais
tomados pela Polícia Civil de Cascavel, no oeste do Paraná, aponta que o
primeiro tiro partiu de um integrante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem
Terra (MST), no confronto envolvendo o grupo e policiais militares, na tarde
desta quinta-feira (7), ocorrido no município de Quedas do Iguaçu.
A afirmação foi feita por Pedro Francelino, 33
anos, integrante do MST e um dos dois presos após a situação. O conteúdo do
depoimento foi divulgado nesta sexta-feira (8) em entrevista coletiva.
“Chegamos lá e um engraçadinho saiu para fora,
atirando para cima e o policial revidou”, contou Francelino à polícia,
acrescentando que tinha sido convidado pelo MST para um protesto no local.
Quando questionado pela delegada Anna Palodetto se
o primeiro teria partido dos integrantes do MST, Francelino respondeu: “É. Foi
do rapaz que morreu, que entrou em óbito lá, com o revólver na mão.”
Além de Francelino, a polícia prendeu Henrique
Gustavo Souza Pratte, de 27 anos. Os dois estão hospitalizados.
“O confronto armado ocorreu no momento em que a PM
fazia atendimento a uma situação de incêndio florestal”, explicou o secretário
da Segurança Pública e Administração Penitenciária, Wagner Mesquita. Estavam no
local dois policiais do Batalhão Ambiental e funcionários da Araupel. Em razão
do conflito agrário, quatro policiais da Rondas Ostensivas Tático Móveis
(Rotam) acompanharam o atendimento.
O Comando-Geral da PM determinou a abertura de um
inquérito policial militar para apurar as circunstâncias. “Já foi oficiado o
Ministério Público e a Ordem dos Advogados do Brasil para que acompanhem o
desenvolvimento desse processo com total transparência”, disse a chefe do
Estado Maior da corporação, coronel Audilene Rosa de Paula Dias Rocha.
Paralelamente, a Polícia Civil investiga o caso.
“Duas pessoas foram autuadas em flagrante. Uma delas prestou depoimento muito
esclarecedor, no qual relata que quando chegaram ao local, inclusive com o
ônibus, um dos integrantes do MST efetuou o disparo. As perícias técnicas de
necropsia e de local de crime vão subsidiar nossos trabalhos”, informou o
delegado-geral da Polícia Civil, Julio Reis.
RELATO – De acordo com o comandante da Rotam,
Aníbal Pires do Amaral Neto, a Companhia de Quedas do Iguaçu foi chamada para
prestar apoio à polícia ambiental para verificação de uma queimada.
Ao chegarem ao local que dá acesso ao alojamento
da Araupel, as equipes se deslocaram a pé para fazer a varredura. Os policiais
ouviram o barulho de uma motocicleta, abordaram o motorista e nada encontraram.
Mas, como ele teria buzinado, a polícia acreditou que poderia haver mais
pessoas. Foram então até uma curva da estrada e retornaram após verificar que
não havia mais ninguém.
O comandante afirma que, então, foram ouvidos
novamente barulhos de veículos que se deslocavam vindos da ocupação, momento em
que a polícia abordou uma outra moto e identificou a aproximação de mais três
motocicletas, com duas pessoas cada, uma caminhonete GM/S10 de cor escura, com
pessoas no interior e mais dez na carroceria, além de um ônibus com cerca de 30
pessoas.
Ao avistarem a polícia, eles teriam efetuado disparos
contra as equipes. Também de acordo com o depoimento, “devido à injusta
agressão” a equipe revidou.
Duas pessoas morreram e outras duas ficaram
feridas. Os policiais apreenderam um cartucho de espigarda calibre 12
deflagrado, um coldre de arma de porte, uma faca com lâmina de aproximadamente
30 cm, uma capa para transporte de arma longa e roupa camuflada.
Um dos mortos foi identificado como Vilmar Bordim,
com quem a polícia encontrou uma pistola calibre 380, além de um carregador com
oito cartuchos e outro carregador no bolso da calça com 14 cartuchos. Com o
segundo integrante morto, que ainda não foi identificado, foi encontrado um
revólver sem marca aparente calibre 38, com seis cartuchos intactos.
O local do confronto é o mesmo em que, em setembro
de 2015, dois funcionários da Araupel e três de uma empresa de segurança
registraram um boletim de ocorrência relatando que foram vítimas de disparos de
arma de fogo durante um patrulhamento.
De acordo com o boletim, ocupantes de uma
caminhonete escura, cujo modelo não foi identificado, teriam efetuado seis
disparos contra o veículo. Ninguém ficou ferido.
DISPUTA – Sobre o imbróglio envolvendo a
titularidade da área ocupada pelo MST, o secretário da Segurança Pública
ressaltou que é um assunto que, há anos, é tratado pelo Poder Judiciário.
“Para o local, não há nenhum mandado de
reintegração vigente. O nosso foco foi tratar da segurança pública no município
e desde logo recebemos muita informação de crimes graves, de ameaça, porte
ilegal de arma, extração ilegal de madeira, cárcere privado, venda de carne
furtada, furto de gado”, enumerou.
Esses registros culminaram em dados estatísticos
com tendências de acréscimo na localidade, como os de roubos (aumento de 129%),
roubos de veículos (+25%), furtos (+36%) e furtos de veículos (+177%), quando
comparados os anos de 2014 e 2015.
“Por conta disso, o foco dos trabalhos da
Secretaria da Segurança Pública foi o de fazer o controle da criminalidade na
região e evitar que houvesse confronto entre funcionários da Araupel e
manifestantes do MST, enquanto o processo judicial se arrasta”, disse Mesquita.
FORÇA NACIONAL DE SEGURANÇA - Para reforçar o
esquema de segurança na região foi solicitado apoio da Força Nacional, que
chegou nos primeiros dias de 2016 e permaneceu com efetivo mobilizado até o mês
de março.
“Nós também aumentamos o efetivo, com tropas do
Batalhão de Fronteira (BPFron) e do Batalhão de Policiamento Ambiental.
Solicitamos o reforço de polícia judiciária, com a ida de delegados, e
estimulamos que empresas e cidadãos de Quedas do Iguaçu registrassem mais
ocorrências”, explicou Mesquita.
A Secretaria da Segurança Pública pediu ao governo
federal prorrogação da permanência da Força Nacional, no início de março, e a
volta do efetivo foi confirmada pelo Ministério da Justiça no final da tarde
desta sexta-feira (8).
“Isso estava trazendo bons resultados, o ambiente
estava pacificado, as tensões estavam menores na região, então solicitamos que
a Força Nacional permanecesse na região, ajudando no patrulhamento. Também
preparamos um reforço de quase 100 policiais militares para fazer frente aos
índices de criminalidade e às notícias de crime que estavam lá ocorrendo”,
disse o secretário.
Logo nas primeiras ações desse esforço concentrado
ocorreram prisões por porte ilegal de arma de fogo e comprovações de extração
ilegal de madeira.
Informações da Agência Estadual de Notícias (AEN).