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Imagem ilustrativa da imagem Talento e vocação

Por Mário Sérgio de Melo

Vamos considerar como “talento” a habilidade nata edificante, que engrandece o indivíduo e contribui para o convívio social. Bem diferente de habilidades que podem ser nefastas, como a do projetista de minas terrestres explosivas. E vamos considerar como “vocação” o chamado, o desejo e empenho em firmar-se numa certa habilidade, seja profissional, artística, esportiva, científica.

Bem-aventurada a pessoa na qual convergem talento e vocação! Quem tem talento para ser um músico, e deseja sê-lo, superará obstáculos, e terá grande chance de tornar-se um músico bem-sucedido. Mas quem tem talento para ser um escritor, e não se empenha em sê-lo, talvez nunca escreva.

Há outras componentes na relação entre talento e vocação. A oportunidade, fruto do ambiente, natural ou social, é uma delas. Alguém com talento para a música que nunca for apresentado a ela, dificilmente poderá tornar-se um músico. A menos que seu talento seja tão prodigioso que ele encontre a música nos sons da natureza. Alguém com talento para a literatura que nunca venha a conhecer um livro, dificilmente poderá tornar-se um escritor.

Outra componente é a circunstância. Entre os sobreviventes de um acidente aéreo na floresta, por exemplo, um hábil escriturário da cidade pode revelar-se um competente intérprete da ignorada linguagem da selva. E pode salvar a todos.

Condição essencial para que o talento se manifeste é sua aceitação. Mas é possível que o talentoso nunca descubra seu talento ─ dizem que é a situação mais comum ─. Ou até saiba dele, mas o rejeite, influenciado por imposições sociais. A mulher agregadora e líder nata pode vir a ser sabotada num meio ferozmente patriarcal, e pode optar por anular-se. O poeta sensível pode preferir o anonimato numa sociedade machista e mercantil. Ou uma talentosa cozinheira pode julgar que cozinhar seja tarefa de escravas e serviçais, e nunca desenvolva seu condão.

Há outro lado: o desejo, a vocação, divorciada do talento natural. A realização do desejo vai depender da combinação de outros fatores. Sobretudo dedicação. Adquirir uma habilidade que não se possuía vai depender de empenho e perseverança. E desde que a pessoa seja capaz de vencer as limitações para construir-se talentosa na sua vocação. E de reconhecer quais os limites intransponíveis. Não é plausível que um deficiente visual venha a tornar-se um fotógrafo renomado. Nem que alguém dotado para ser um velocista torne-se um campeão de levantamento de peso pesado. Nem que a pessoa com deficiência de atenção transforme-se numa revisora de textos.

Em qualquer dos casos possíveis, é essencial que cada ser humano tenha oportunidade e estímulo para reconhecer, valorizar e desenvolver seus talentos. Educação e inclusão social são capitais para que isso aconteça, e devem ser prioridades de um governo democrático.

É bem crível que todos nós, sem exceção, tenhamos nossos talentos natos. Lograr descobri-los e exercê-los realizaria o indivíduo e acrescentaria à sociedade.

Autor é Geólogo, professor aposentado do Departamento de Geociências da UEPG 

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