Debates
O grande erro do PT
Da Redação | 11 de outubro de 2018 - 10:40
Por Mário Sérgio de Melo
Durante a campanha eleitoral, martelou-se a ideia de que a
disputa estava polarizada entre o extremo radicalismo da esquerda e o
radicalismo extremo do fascismo. E agora, com os resultados do primeiro turno
há quem desesperadamente entenda que estamos entre o bolivarianismo e o
nazismo.
Mesmo antes, mais agudamente desde 2013, o PT tem sido
estigmatizado como o partido da corrupção. Vamos voltar a 1989, quase trinta
anos atrás. Na primeira eleição direta pós-ditadura, Lula surpreendentemente
chegou ao segundo turno, e ameaçava ganhar as eleições do caçador de marajás
criado pela Globo, Fernando Collor. Na semana que antecedeu a decisão do
segundo turno vários acontecimentos: o uso passional dos depoimentos de uma
ressentida ex-companheira de Lula; a vergonhosa edição do debate Lula X Collor
pela Globo beneficiando o caçador de marajás; o estouro do cativeiro de Abílio
Diniz transmitido em rede nacional em tempo real, os sequestradores vestindo
camisetas do PT. Só anos mais tarde reconheceram-se as provas de que as
camisetas foram criminosamente impostas aos sequestradores, que não tinham nada
a ver com o partido. E que a Globo manipulou o debate, e que a ex-companheira
era uma irremediável ressentida.
Ou seja, mesmo antes da pecha de partido da corrupção, o PT
há muito tempo vem sendo demonizado. Tentaram antes imputar-lhe a pecha de
partido dos terroristas e sequestradores, que não colou. E a pecha de único
partido da corrupção só colou pelo incomensurável empenho midiático e judicial
de exaltar os malfeitos do PT e esconder aqueles de todos os outros partidos,
que igualmente os cometem, porque infelizmente a corrupção é um ingrediente
inescapável da sórdida política brasileira.
A demonização do PT não terminou. Quem não viu Adélio Bispo,
o agressor do atentado a Jair Bolsonaro, legalmente considerado perturbado e
fanático, vestindo camiseta vermelha quando foi transferido de presídio na
semana que antecedeu o primeiro turno? Não conseguiram provar, como muito
tentaram, ligação do agressor com o PT, então enfiaram-lhe a camiseta vermelha,
um apelo sem palavras a reflexos condicionados que têm sido cultivados a
décadas.
E ligar o PT ao risco do Brasil virar uma Venezuela
parece-me a apoteose do desvario dos comportamentos condicionados e dos
consensos construídos que por muito tempo serão objeto de estudo de cientistas
políticos, psicólogos e sociólogos. O Brasil e a Venezuela têm sim algumas
coisas em comum. A primeira delas é terem grandes reservas de petróleo, a
principal fonte de energia e matéria prima mundial, e cujo controle está na mão
de transnacionais que não toleram qualquer ameaça a seu cartel. A segunda é que
os dois países tiveram governos que ousaram sonhar com a soberania nacional,
inclusive sobre suas reservas petrolíferas. Mas comparar o PT com o que se
passa na Venezuela é uma cegueira só explicável pela facilidade com que o ser
humano, tal como os cães de Pavlov, é controlado pelos estímulos repetitivos e
pelo reflexo condicionado.
O grande erro do PT é ser o Partido dos Trabalhadores, que
nasceu de lutas sindicais, e não capitula abrir mão dos princípios de inclusão
e justiça social. Se ele fosse o Partido do Mercado, o Partido da Hipocrisa, o Partido
do Fisiologismo, o Partido da Elite Entreguista, não teria sido vítima de tão
agudo e continuado esforço de demonização.
Esse esforço de demonização criou o fenômeno Bolsonaro.
Agora os criadores desse fenômeno parecem estar confusos com sua criatura.
Mário Sérgio de Melo é Geólogo, Professor do Departamento de Geociências da UEPG