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Imagem ilustrativa da imagem O grande erro do PT

Por Mário Sérgio de Melo 

Durante a campanha eleitoral, martelou-se a ideia de que a disputa estava polarizada entre o extremo radicalismo da esquerda e o radicalismo extremo do fascismo. E agora, com os resultados do primeiro turno há quem desesperadamente entenda que estamos entre o bolivarianismo e o nazismo.

Mesmo antes, mais agudamente desde 2013, o PT tem sido estigmatizado como o partido da corrupção. Vamos voltar a 1989, quase trinta anos atrás. Na primeira eleição direta pós-ditadura, Lula surpreendentemente chegou ao segundo turno, e ameaçava ganhar as eleições do caçador de marajás criado pela Globo, Fernando Collor. Na semana que antecedeu a decisão do segundo turno vários acontecimentos: o uso passional dos depoimentos de uma ressentida ex-companheira de Lula; a vergonhosa edição do debate Lula X Collor pela Globo beneficiando o caçador de marajás; o estouro do cativeiro de Abílio Diniz transmitido em rede nacional em tempo real, os sequestradores vestindo camisetas do PT. Só anos mais tarde reconheceram-se as provas de que as camisetas foram criminosamente impostas aos sequestradores, que não tinham nada a ver com o partido. E que a Globo manipulou o debate, e que a ex-companheira era uma irremediável ressentida.

Ou seja, mesmo antes da pecha de partido da corrupção, o PT há muito tempo vem sendo demonizado. Tentaram antes imputar-lhe a pecha de partido dos terroristas e sequestradores, que não colou. E a pecha de único partido da corrupção só colou pelo incomensurável empenho midiático e judicial de exaltar os malfeitos do PT e esconder aqueles de todos os outros partidos, que igualmente os cometem, porque infelizmente a corrupção é um ingrediente inescapável da sórdida política brasileira.

A demonização do PT não terminou. Quem não viu Adélio Bispo, o agressor do atentado a Jair Bolsonaro, legalmente considerado perturbado e fanático, vestindo camiseta vermelha quando foi transferido de presídio na semana que antecedeu o primeiro turno? Não conseguiram provar, como muito tentaram, ligação do agressor com o PT, então enfiaram-lhe a camiseta vermelha, um apelo sem palavras a reflexos condicionados que têm sido cultivados a décadas.

E ligar o PT ao risco do Brasil virar uma Venezuela parece-me a apoteose do desvario dos comportamentos condicionados e dos consensos construídos que por muito tempo serão objeto de estudo de cientistas políticos, psicólogos e sociólogos. O Brasil e a Venezuela têm sim algumas coisas em comum. A primeira delas é terem grandes reservas de petróleo, a principal fonte de energia e matéria prima mundial, e cujo controle está na mão de transnacionais que não toleram qualquer ameaça a seu cartel. A segunda é que os dois países tiveram governos que ousaram sonhar com a soberania nacional, inclusive sobre suas reservas petrolíferas. Mas comparar o PT com o que se passa na Venezuela é uma cegueira só explicável pela facilidade com que o ser humano, tal como os cães de Pavlov, é controlado pelos estímulos repetitivos e pelo reflexo condicionado.

O grande erro do PT é ser o Partido dos Trabalhadores, que nasceu de lutas sindicais, e não capitula abrir mão dos princípios de inclusão e justiça social. Se ele fosse o Partido do Mercado, o Partido da Hipocrisa, o Partido do Fisiologismo, o Partido da Elite Entreguista, não teria sido vítima de tão agudo e continuado esforço de demonização.

Esse esforço de demonização criou o fenômeno Bolsonaro. Agora os criadores desse fenômeno parecem estar confusos com sua criatura.

Mário Sérgio de Melo é Geólogo, Professor do Departamento de Geociências da UEPG

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