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Panorama da Ferrugem Asiática na safra 2017/18 e precauções para a próxima safra
Da Redação | 16 de agosto de 2018 - 01:33
Por Ayrton Berger Neto
A cultura da soja foi responsável por estar presente em 57%
da área destinada a produção de grãos no país, totalizando 35,1 milhões de
hectares cultivados na safra 2017/18, constituindo-se como a mais importante
cultura para a agricultura brasileira (CONAB, 2018). Diante de uma área de
cultivo tão extensa com uma única cultura, o controle de doenças,
principalmente da ferrugem asiática da soja [Phakopsora pachyrhizi (Sydow
& P. Sydow)], tem um papel fundamental na obtenção de altas produtividades.
A
ferrugem asiática pode causar redução de produtividade de soja na ordem de 75%
e com isso, se faz necessário o uso de vários métodos de controle no manejo da
doença. Dentre estes métodos está a adoção de vazio sanitário, calendarização
de semeadura da cultura, semeadura de variedades cada vez mais precoces já na
primeira época de plantio permitido, uso de variedades com genes de
resistência, além do controle químico.
Na
safra 2017/18, a semeadura da soja teve um pequeno atraso em algumas regiões
devido a falta de chuvas, mas a grande maioria das áreas foi semeada até final
de novembro, o que proporcionou um “escape” do período onde há maior severidade
de ferrugem asiática.
Nos
estados do Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo e Minas Gerais a primeira
ocorrência de P. pachyrhizi em lavoura comercial foi constatada já no
mês de novembro, de acordo com Consórcio Antiferrugem, o que levou a produtores
e consultores a ficarem preocupados. No entanto a evolução da doença foi
bastante lenta, em relação ao que já foi observado em safras anteriores.
Para
os estados do Centro-Oeste, Nordeste e Norte do Brasil a ferrugem asiática teve
suas primeiras constatações em lavouras comerciais a partir de 22 de dezembro e
a evolução da severidade do patógeno também foi muito lenta, o que levou a
colheita da grande maioria das áreas de soja dessas regiões sem a presença
desta doença.
De
acordo com levantamento feito por pesquisadores da Embrapa Soja, na safra
2017/18 somente o estado do Paraná registrou prejuízos devido ocorrência de
ferrugem asiática. Fato que se atribui aos longos períodos de chuva nos meses
de dezembro e janeiro, o que em casos pontuais impossibilitou a pulverização
para o controle químico. Nos demais estados do Brasil não houve decréscimo de
produtividade causado por esta doença.
O
eficiente controle da ferrugem asiática se deu pela semeadura na época
recomendada em grande parte do país, proporcionando o “escape” da doença, assim
como o uso de fungicidas de modo consciente pelos agricultores, alternando
diferentes ingredientes ativos durante o ciclo da cultura e, associando
fungicidas multissítios nas aplicações com os de sítio específico para controle
do fungo. Esta ação minimizou os riscos da seleção de populações resistentes
de Phakopsora pachyrhizi aos fungicidas utilizados.
De
acordo com resultados apresentados no VIII Congresso Brasileiro de Soja, a
frequência de ocorrência de mutação C-I86F em populações de P. pchyrhizi,
a qual confere menor sensibilidade do fungo às carboxamidas, na safra 2017/18
teve uma redução em relação à safra 2016/17. Fato que pode estar ligado
principalmente à maior rotação de ingredientes ativos no programa de aplicações
de fungicidas e também a associação de multissítios nas aplicações que na safra
2017/18, aumentou 27,3% em área tratada em relação à safra 2016/17. No entanto
a utilização de multissítios ainda é baixa quando se busca um manejo de
resistência. Apenas 28% das pulverizações para ferrugem asiática foram
realizadas com associação de algum fungicida multissítio. Porém a cada safra
tem ocorrido um incremento no uso desta ferramenta que traz segurança a curto e
longo prazo para toda cadeia produtiva da cultura da soja no Brasil.
Os primeiros indícios de perda de sensibilidade de P.
pachyrhizi a triazois foi detectada em 2007, seis anos após o início da
utilização deste grupo químico em lavouras de soja para controle desta doença.
Para estrobilurinas, o fungo apresentou os primeiros indícios de perda de
sensibilidade em 2012, dez anos após o início da utilização comercial de
ingredientes ativos pertencentes a este grupo químico. No caso de carboxamidas
foram somente três anos desde o início do uso em áreas comerciais de soja até o
primeiro relato de perda de sensibilidade de P. pachyrhizi.
A
frequência de mutação C-I86F em populações de P. pachyrhizi ainda é
baixa e há a possibilidade que, através do correto manejo de resistência para
ingredientes ativos pertencentes a este grupo químico, estes possam continuar
desempenhando boa eficiência no controle da doença, sendo mais uma alternativa
para o produtor rural.
A
ferrugem asiática da soja surpreende a cadeia produtiva a cada safra, pois são
observados comportamentos diferentes do patógeno, tanto em questão de
sensibilidade a fungicidas quanto período de ocorrência e evolução da mesma.
Para a próxima safra de soja é muito difícil prever como será o comportamento
desta doença tão danosa. Com isso recomenda-se que todo sojicultor siga a rigor
recomendações do FRAC (Fungicide Resistance Action Committee) para que os
riscos de perdas de produtividade por P. pachyrhizi sejam reduzidos
ao máximo e para que se preserve a manutenção da eficácia dos fungicidas, uma
tecnologia indispensável para o cultivo da soja no Brasil. Estas recomendações
são:
· Esteja
atento ao monitoramento constante das doenças da soja, especialmente a
ferrugem, e realize as aplicações em intervalos adequados seguindo as
recomendações do fabricante;
· Realize
a aplicação dos fungicidas de forma preventiva, sempre em associação com
fungicidas multissítios (Importance of multisite fungicides in managing
pathogen resistance – FRAC, Junho 2018);
· Utilizar
sempre misturas comerciais formadas por dois ou mais fungicidas com mecanismos
de ação distintos;
· Rotacione
fungicidas com diferentes mecanismos de ação (Triazóis, Estrobilurinas,
Carboxamidas, Morfolinas e Multissítios);
· Não
ultrapasse o número máximo de 2 (duas) aplicações de fungicidas de mecanismo de
ação específico no mesmo ciclo de cultivo;
· Utilize
tecnologia de aplicação adequada;
· Não
plante soja “safrinha”;
· Respeite
o vazio sanitário e elimine as plantas voluntárias remanescentes em lavouras e
beiras de estrada (guaxas);
· Procure
realizar o plantio na época recomendada, utilizando variedades de ciclo mais
curto e se possível, com tolerância genética frente à doença;
· Realize a rotação de culturas.