Debates
O desenvolvimento do raciocínio matemático
Mario Martins | 11 de agosto de 2017 - 01:34
Por Christiane Mazur Doi
O desenvolvimento do raciocínio matemático é essencial para
compreendermos situações do dia a dia, como o cálculo de juros em
financiamentos bancários; o balanço de receitas e despesas no orçamento
doméstico; o sentido de gráficos em notícias de jornais; o significado de mapas
com taxas de homicídios por 100 mil pessoas; e o rótulo de pacotes de biscoitos
com o percentual de gordura trans. Ou seja, a Matemática é necessária para o
entendimento do mundo em geral.
É nessa perspectiva que o PISA, exame internacional
desenvolvido e aplicado pela OCDE (Organização para a Cooperação Econômica e
Desenvolvimento), a cada três anos desde 2000, avalia o letramento em
Matemática dos estudantes na faixa dos 15 anos. Usa-se o termo letramento, pois
a prova não se baseia apenas em conteúdos curriculares, mas também em
habilidades de análises e interpretações de enunciados contextualizados, de uso
do raciocínio lógico para a solução de problemas, de emprego de pensamento
crítico e de comunicação eficiente de ideias.
A última edição do Pisa, realizada em 2015,
mostra que os estudantes brasileiros estão entre os que apresentaram os piores
resultados em Matemática, mesmo se comparados aos estudantes de outros países
da América do Sul, como a Argentina, o Chile, a Colômbia e o Peru.
No Pisa, de acordo com a pontuação obtida, os alunos são
classificados em: “nível 1” (de 358 a 420 pontos); “nível 2” (de 420 a 482
pontos); “nível 3” (de 482 a 545 pontos); “nível 4” (de 545 a 607 pontos);
“nível 5” (de 607 a 669 pontos); e “nível 6” (acima de 669 pontos). Há a
classificação “abaixo do nível 1” (menos de 358 pontos) para estudantes que não
conseguem solucionar os enunciados mais simples do exame.
Se considerarmos apenas os países que participaram de todas
as edições do Pisa desde 2000 até 2015, o Brasil é o que apresentou a menor
média no período (369 pontos). Além disso, houve queda na pontuação brasileira
de 2012 (391) para 2015 (377).
As 27 Unidades da Federação do Brasil aderiram ao Pisa em
2015, com 841 escolas e 23.141 alunos. A maior pontuação foi a do Paraná (406)
e a menor foi a de Alagoas (339). No entanto, nenhuma Unidade da Federação do
Brasil ultrapassou o nível mais baixo da classificação, o “nível 1” (de 358 a
420 pontos).
Mais preocupante é a situação de nove estados brasileiros
(Alagoas, Amapá, Bahia, Maranhão, Paraíba, Piauí, Rio Grande do Norte, Sergipe
e Tocantins) que estão abaixo da classificação mínima, ou seja, “abaixo do
nível 1”, com menos de 358 pontos.
Isso significa que muitos dos nossos alunos não conseguem
entender informações diretas e executar ações óbvias para resolver problemas
simples.
Se, como introduzido neste artigo, “o desenvolvimento do
raciocínio matemático é essencial para compreendermos situações do dia a dia”,
então o desempenho dos brasileiros no Pisa indica que precisamos de medidas que
reparem nossa situação, a fim de formarmos indivíduos capazes de, realmente,
exercer a cidadania.
Christiane Mazur Doi é Doutora em Engenharia, Mestre em Ciências, Engenheira Química e Licenciada em Matemática, com Aperfeiçoamento em Estatística.