Debates
Abandono de animais domésticos
Da Redação | 23 de maio de 2017 - 03:47
Por Marcello Richa
O Brasil enfrenta uma difícil realidade relacionada ao
abandono de animais domésticos, que tem se acentuado com a crise econômica que
afeta o país. De acordo com pesquisa promovida pela Organização Mundial da
Saúde (OMS), já existem mais de 30 milhões de cães e gatos abandonados no país,
um dado alarmante que reflete uma negligência nos cuidados com os animais
domésticos e um problema sério de saúde pública.
São diversas situações que ampliam os desafios para
enfrentar essa realidade. Em termos individuais, temos que começar do básico
que é reconhecer a responsabilidade que assumimos ao decidir ter um animal
doméstico, uma vez que estamos falando de um ser vivo que precisa de atenção,
cuidados, afetividade e planejamento, tanto financeiro quanto pessoal.
A criação de um animal doméstico exige que seja oferecido um
ambiente adequado para seu desenvolvimento, bem como um comprometimento
constante com os cuidados de acordo com as características de cada raça. Vale
ressaltar que Pesquisa Nacional de Saúde (PNS 2013) indicou que 25,6% dos lares
com cães e gatos não tinham dado a vacina de imunização contra a raiva um ano
antes (vacina que deve ser feita anualmente).
Já em um âmbito mais amplo, o enorme número de animais
domésticos abandonados gera um problema de controle de natalidade de cães e
gatos que se agrava a cada ano. Pesquisa promovida pela Universidade de São
Paulo (USP) apontou que a população de cachorros apresenta um crescimento de 6%
ao ano, enquanto a de gatos cresce 12% ao ano.
Os números acentuam a importância do trabalho de controle de
natalidade dessas raças tanto no aspecto humanitário quanto de saúde, uma vez
que sem os cuidados apropriados eles podem transmitir doenças, vasculhar e
espalhar lixo e servir como hospedeiros de enfermidades. No Paraná em
particular, que é o estado que apresenta o maior número de domicílio com
cachorros do país, a atenção precisa ser redobrada.
Nos últimos anos o poder público em todas as esferas e
entidades de proteção animal fortaleceram o trabalho em conjunto para reverter
esse quadro. Novas legislações, como a recente Lei n.º 13.426, que cria uma
política de controle de natalidade de cães e gatos, e ações e programas que
visam à adoção, registro, microchipagem e esterilização gratuita têm
apresentado avanços importantes nos municípios.
Ainda temos um longo percurso pela frente, uma vez que é
perceptível que falta estrutura e, especialmente, fiscalização em relação aos
crimes contra os animais, cujas penas no Brasil são brandas e geralmente
revertidas em multas ou trabalhos voluntários. Enraizar uma cultura de respeito
e cuidado com os animais domésticos exige que todos nós façamos parte desse
processo, batalhando por melhorias, denunciando maus-tratos e disseminando
informações para estimular a guarda responsável.
Marcello Richa é presidente do Instituto Teotônio Vilela do
Paraná (ITV-PR)