Debates
A nova lei do distrato imobiliário e a polêmica dos 50% do porcentual de retenção
Da Redação | 04 de janeiro de 2019 - 01:14
Por Renato Tardioli Lima
As regras para o distrato imobiliário vão mudar. O presidente Michel Temer sancionou, na semana passada, a lei que torna mais claras – e também mais duras – as regras sobre o distrato imobiliário, a desistência da compra de um imóvel por parte do consumidor quando ele está inadimplente ou dele desistiu por razões diversas.
Há inúmeros pontos contemplados no Projeto de Lei, mas um
deles, em especial, vem gerando polêmica: na assinatura do distrato, ficam
retidos, sob forma de multa, 50% do montante pago.
Até o surgimento da lei, não existiam regras claras para o
distrato imobiliário, muito menos a definição do porcentual de retenção para as
construtoras a fim de cobrir, ao menos em parte, o investimento feito no imóvel
em questão. Cada caso era um caso, e as decisões iam sempre para a Justiça, que
costumava fixar um índice que oscilava entre 25% e 30% do total pago. Nem é
preciso dizer como o processo era moroso e acontecia sem que construtora e
consumidor conseguissem prever, com clareza, os valores envolvidos. Com a lei,
os termos ficam muito mais transparentes, beneficiando ambas as partes. Apesar
das críticas, trata-se de um avanço que, com o tempo, deve ser reconhecido.
Por parte das construtoras, a definição do porcentual de
retenção de 50% vem como uma boa notícia, especialmente porque, nos últimos
anos, em função das atribulações econômicas do país, houve pedidos de distrato
em massa. O impacto nas contas das construtoras foi significativo, e o
desembolso de quantias vultosas comprometeu, principalmente, o investimento em
outros empreendimentos, além do patrimônio.
Pensando no consumidor, na minha opinião, a lei tem um viés
moralizador. Muitas pessoas compram imóveis sem fazer um estudo financeiro
efetivo, sem analisar se realmente têm condições de arcar com aquele
investimento. Não fazem uma programação financeira familiar que considere todas
as despesas que precisam dar conta, incluindo eventuais imprevistos. E aí, num
determinado momento, deixam de pagar as parcelas acordadas com a construtora ou
mesmo pedem o cancelamento do contrato, com o recebimento do que foi investido
até então.
Acredita-se que, a partir de agora, a decisão pela compra de
um imóvel será, ou deverá ser, fruto de muito mais reflexão, sob pena de perder
valores importantes. Vale lembrar que a lei assegura o direito de
arrependimento de compra em até sete dias de sua formalização, como prevê o
Código de Defesa do Consumidor. Neste caso, o cliente recebe o que foi
investido integralmente.
Por ora, só nos resta torcer para que construtoras e
consumidores trilhem um caminho de prosperidade, para que distratos
imobiliários sejam algo raro nesta relação, e não motivo de conflitos e perdas.
Renato Tardioli Lima é advogado e sócio do escritório Tardioli Lima Advogados.