O amor acima do gênero

Eddie Redmayne parece querer marcar sua carreira com trabalhos desafiadores. Em ‘A Teoria de Tudo’, ele se entregou profundamente à atuação para incorporar o físico Stephen Hawking. Agora, em ‘A Garota Dinamarquesa’, o ator interpreta a primeira pessoa da história a submeter-se a uma cirurgia de mudança de sexo, na década de 1920. No caso, o pintor dinamarquês Einar Wegener que, depois, passaria a ser Lili Elbe. É notável, mais uma vez, o mergulho do ator no projeto que assumiu. A feminilidade do personagem surge aos poucos e a cena em uma cabine é significativa para representar esse processo de mudança de alguém em profundo conflito de inadequação consigo mesmo.

Ele era casado com a também pintora Gerda Wegener (Alicia Vikander, que apresenta um trabalho de interpretação igualmente memorável). Um dia, ao colocar roupas femininas a pedido da esposa para posar para ela, Einar desencadeou a transformação de alguém que se assume transgênero. O filme do diretor inglês Tom Hooper (de ‘Os Miseráveis’ e ‘O Discurso do Rei’) mostra a progressão sutil da alteração, revela sutilezas do relacionamento incomum entre ambos. Como mencionado, Alicia Vikander não fica atrás no papel da mulher que acompanha o esposo nessa trajetória de (re)descobertas, avanços e retrocessos em uma época na qual as pessoas eram internadas em razão da transexualidade.

Com a sobriedade típica do cinema inglês, Tom Hooper consegue atrair a atenção, tanto pela temática em si quanto pela forma delicada como expõe a trama. Mais do que um filme sobre a primeira operação de mudança de sexo que se tem registro, ‘A Garota Dinamarquesa’ revela, nas entrelinhas (ou nem tão implicitamente assim), uma história sobre o amor profundo entre duas pessoas. E com interpretações do casal de protagonistas dignas de aplauso.