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Coluna Fragmentos: A faculdade de medicina de Ponta Grossa

A coluna ‘Fragmentos’, assinada pelo historiador Niltonci Batista Chaves, publicada entre 2007 e 2011, retorna como parte do projeto '200 Vezes PG', sendo publicada diariamente entre os dias 28 de fevereiro e 15 de setembro

Notícia publicada no JM em 13 de dezembro de 1964, na qual, o Deputado Mario Braga Ramos posicionava-se contra a criação de uma faculdade de medicina em Ponta Grossa naquele momento
Notícia publicada no JM em 13 de dezembro de 1964, na qual, o Deputado Mario Braga Ramos posicionava-se contra a criação de uma faculdade de medicina em Ponta Grossa naquele momento -

Listas de adesão circulam pelos quatro cantos da cidade; os discursos da maioria dos políticos são inflamados e defendem a idéia em nome do bem do povo; os jornais locais, de forma apaixonada, destacam o tema em grandes manchetes nas primeiras páginas; nos programas das rádios princesinas não se fala em outra coisa; os doutores reunidos na Associação Médica travam calorosos debates; a população procura meios de sensibilizar o governo do estado. O fato concreto é que Ponta Grossa exige o funcionamento da faculdade de medicina! Cenas de 2003?? ... Nada disso: o ano é 1956!

A primeira vez que se tentou implantar um curso de medicina em Ponta Grossa foi em meados do século passado. Naqueles tempos quem comandava o estado, e não cedeu aos apelos ponta-grossenses, era o conservador Moysés Lupion, com fortes ligações políticas em nossa cidade. Em Curitiba, um adolescente chamado Roberto (filho do médico Wallace Mello e Silva) completava o ginásio e nem sonhava em se tornar governador do Paraná.

Desde o início do século XX, Ponta Grossa projetou-se como um dos principais centros médicos do estado. Hospitais como o 26 de Outubro e a Santa Casa recebiam doentes vindos de diversos pontos do Paraná e também de estados vizinhos como São Paulo e Santa Catarina. A fama de médicos que atuavam na cidade, como os doutores Flaviano Silva, Francisco Burzio e Petit Carneiro era reconhecida em todo sul do Brasil.

Em virtude dessa realidade, a idéia da criação de uma faculdade de medicina não tardou a surgir em Ponta Grossa. Já nos anos 30, apareceram as primeiras discussões a esse respeito. Porém, foi a partir da década de 1950 que essa idéia efetivamente ganhou força. Em 1956 emergiu o primeiro movimento em prol da implantação de um curso de medicina na cidade. Manifestações públicas, abaixo-assinados, debates com os políticos locais e criação de comissões deram feição àquele movimento. As solicitações feitas ao governador Lupion, porém, não prosperaram e, rapidamente, as expectativas se desfizeram.

Na década de 1960 a idéia voltou a ganhar força na cidade. O auge foi em 1967. Naquele ano as estratégias se repetiram: o povo foi para as ruas, as lideranças políticas encamparam oficialmente a proposta e um abaixo-assinado com milhares de assinaturas foi enviado ao Governador Paulo Pimentel solicitando a criação da faculdade e o imediato funcionamento do curso de medicina em Ponta Grossa.

Tais desejos foram atendidos parcialmente. Oficialmente o curso foi criado por Pimentel no final dos anos 60. Seu funcionamento, contudo, só foi autorizado no início do século XXI. Toda polêmica que se estabeleceu a partir daí é bastante conhecida por todos e envolve elementos políticos, técnicos, acadêmicos, pessoais e passionais.

Como historiador e pesquisador, aprendi que o bom da história é que ela sempre pode reservar àqueles que a estudam, descobertas que ajudam a entender melhor como as sociedades funcionam e como se criam “verdades”, símbolos, mitos e valores. O prenúncio da autorização da volta do funcionamento do curso de medicina na UEPG nos ajuda a pensar sobre os avanços da instituição nos últimos anos no sentido de adequar sua estrutura – física, humana e técnica – para receber tal curso e nos benefícios que a cidade e os Campos Gerais terão com a construção do Hospital Regional no Campus de Uvaranas. Talvez este seja o momento exato para que a nossa cidade concretize um sonho que se iniciou na distante década de 1950!

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O material original, com mais de 170 colunas, será republicado na íntegra e sem sofrer alterações. Por isso, buscando respeitar o teor histórico das publicações, o material apresentará elementos e discussões datadas por tratarem-se de produções com mais de uma década de lançamento. Além das republicações, mais de 20 colunas inéditas serão publicadas. Completando assim 200 publicações.

Publicada originalmente no dia 23 de dezembro de 2007.

Coluna assinada por Niltonci Batista Chaves. Historiador. Professor do Departamento de História da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Doutor em Educação pela Universidade Federal do Paraná.

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