PONTA GROSSA
‘Acreditem na ciência e vacinem-se’, pede médica do HU-UEPG
Atuante em um hospital referência no tratamento de pacientes com Covid-19, ela divide a rotina entre salvar vidas e cuidar de sua família
Da Redação | 30 de abril de 2021 - 00:32
Atuante em um hospital referência no tratamento de pacientes
com Covid-19, ela divide a rotina entre salvar vidas e cuidar de sua família
A foto do perfil nas redes sociais mostra a que veio. De
cara, a frase “Vacina para Todos. Viva o SUS. Viva a Ciência” indica o anseio
de uma médica que está na linha de frente no combate à pandemia do novo
Coronavírus. Maria Cristina Guarienti, médica intensivista do Hospital da
Universidade Estadual de Ponta Grossa (HU-UEPG), sabe bem o porquê de clamar
por vacina até em suas redes sociais. Atuante em um hospital referência no
tratamento de pacientes com Covid-19, ela divide a rotina entre salvar vidas e
cuidar de sua família.
Cris, como é chamada por quem a conhece, é formada em
medicina há mais de 10 anos e há 4 atua no HU-UEPG. Seu primeiro contato com o
Hospital foi durante a residência em clínica médica, quando acompanhava os
ambulatórios. Em 2017, Cris entrou para o Programa de Residência em Medicina
Intensiva. “Fui a primeira residente. Tive a sorte de conhecer e aprender com
os melhores profissionais da medicina, enfermagem, fisioterapia, psicologia.
Tenho muito orgulho de, hoje, continuar fazendo parte desse time de gigantes”,
relembra.
O começo da pandemia em Ponta Grossa foi totalmente
diferente para Cris. “Eu estava afastada, pois minha filha tinha 30 dias nesta
época. Acompanhava tudo de longe – abertura da UTI 3, criação dos protocolos e
outras ações. Ao mesmo tempo que eu queria muito estar ajudando, eu tinha muito
medo, principalmente pela minha família”. O primeiro caso chegou, a UTI 3
encheu e os 10 primeiros leitos foram insuficientes. A partir daí, veio a UTI
4, o convite para atuar como rotineira e depois a necessidade de abrir a UTI 5.
Neste momento já era impossível para Cris não se envolver. “A minha
especialidade era a mais requisitada e eu já não podia me dar ao luxo de
continuar em casa. Voltei para a rotina da UTI, perdida, assustada, mas em
pouco tempo me adaptei ao novo normal”.
Os novos dias se dividiram entre plantões na UTI 4, no
terceiro andar. “Acreditávamos que tudo isso seria passageiro, só alguns meses
de pico, mas infelizmente nos enganamos”. Entre os momentos marcantes que
viveu, Cris enfatiza que o pior foi ter se contaminado e, consequente, levado o
vírus para sua família. A médica já havia recebido a primeira dose da vacina e
os sintomas foram leves. Seu marido apresentou poucos sintomas e seus filhos
não apresentaram nada. Mas sua mãe, que faz parte do grupo de risco, acabou
sendo internada no HU. “Eu sempre tive medo de contaminá-la, foram os piores
dias da minha vida. Larguei tudo para cuidar dela, e ela precisou de
internamento hospitalar. Graças a Deus e a colegas maravilhosos, passamos por
tudo sem maiores consequências”. Depois de alguns dias no oxigênio e muita
fisioterapia, a mãe de Cris recebeu alta. “Nestes dias tive a certeza de ter ao
meu lado pessoas fantásticas, mas também algumas decepções que ficaram pelo
meio do caminho”.
As relações com Cris no trabalho chegaram a níveis
profundos, como de família, de acordo com a fisioterapeuta Thalita Karoline
Sidoski. As duas se conhecem desde 2018, durante a residência em intensivismo.
“Ficava admirada como aquela medica se dedicava aos seus pacientes e dava
atenção aos seus familiares”, conta Thalita. O tempo passou e a parceria
aumentou entre as profissionais. “Nos sentíamos em casa por estamos juntas e
até nos chamávamos de “Dupla”. Em 2020 tivemos a chance de trabalharmos juntas
novamente. Que alegria foi saber que todos os pacientes estavam sobre o cuidado
daquela médica tão competente e dedicada”. A admiração por Cris não é sem
motivo, segundo Thalita, “porque tudo que precisamos é só falar com a “mãe
Cris”, pois ela dá um jeito de ajudar! São tantas histórias, tantas risadas,
que levarei para sempre!”.
A médica intensivista, Mayza Mayumi Yamashita, conheceu Cris
durante o período de residência e considera a colega como uma das grandes
incentivadoras para o início da carreira na medicina intensiva. “A Cris é uma
profissional dedicada e extremamente competente, amiga e divertida, mãe
admirável, mulher forte e determinada, foi e ainda é como uma irmã mais velha
para mim”. Durante o período de residência, as duas foram companheiras na
discussão de casos clínicos. “Ela me norteava em relação a aplicação dos
protocolos na prática médica, foi meu ombro amigo e parceira de risadas e
conversas aleatórias durante o café da manhã dentro do hospital”, relembra
Mayza. Em meio à pandemia, com períodos
de exaustão mental e de angústia, o vínculo de amizade e confiança se fortaleceu.
“Discutimos as melhores opções terapêuticas, alinhamos condutas e damos o nosso
melhor diariamente pelos nossos pacientes. Tenho grande admiração por ela e sou
muito grata por ter ela na minha vida como amiga e conselheira”, finaliza.
Um apelo à ciência
Depois de um ano no combate à pandemia e no tratamento de pacientes com Covid-19, Cris ressalta que as UTIs continuam lotadas e a faixa etária dos pacientes graves está diminuindo. “Por trás de cada profissional existe uma família que também corre riscos, que também está exausta, principalmente pela nossa ausência e doação neste momento”. A médica destaca o esforço dos profissionais e faz um apelo. “Não paguem para ver, a vida de todo mundo importa! Nos respeitem, respeitem nossas famílias. Evitem aglomerações, usem a máscara corretamente, não esqueçam do distanciamento e do álcool em gel. Acreditem na ciência e vacinem-se!”.