Política
Partidos precisarão de quase 10 mil votos para eleger vereador
Fernando Rogala | 18 de maio de 2019 - 03:10
Redução de cadeiras
na Câmara municipal aumenta quociente eleitoral e deixa eleição 21% mais
difícil para candidatos ao Legislativo. Cientista político acredita que ‘bomba’
deve cair no colo dos que representam minorias.
Quem pretende se candidatar ao cargo de vereador em Ponta
Grossa durante as eleições do próximo ano deve se preparar para um pleito mais
difícil que o dos últimos anos. Uma estimativa rápida, levando em consideração
os votos válidos da última eleição municipal – quando 178,2 mil pessoas foram às
urnas no primeiro turno – aponta que o quociente eleitoral deve subir de 7.750
em 2016 para 9.380 em 2020. O aumento é de 21% em relação aos dois períodos.
Caso o número de eleitores seja semelhante no próximo pleito,
é possível estimar que um partido político necessite de quase 10 mil votos para
eleger um vereador em Ponta Grossa. Isso por conta da decisão do Congresso
Federal, ao final de 2017, de acabar com as coligações partidárias para cargos
proporcionais (vereadores e deputados), que entra em funcionamento a partir do
próximo ano e faz com que as legendas lutem entre si nas eleições municipais.
Para o cientista político Fábio Anibal Goiris, o aumento do
quociente eleitoral deve afetar com mais força os candidatos que representam as
minorias locais. Segundo o pesquisador, devem ser eleitos vereadores que
levantem bandeiras de causas mais amplas, o que, por consequência, deve
diminuir a representatividade no Legislativo Municipal.
Um exemplo: ao invés de ser eleito alguém que represente os
professores das escolas públicas, a Câmara deve contar com um vereador que
levante a bandeira de toda a Educação, englobando causas comuns entre
professores de escolas, universidades, servidores e outras classes semelhantes.
“A cultura ponta-grossense se abraçou nessa questão de diminuir gastos. Mas
acabou estagnando a democracia, em termos de representatividade. Líderes
menores terão mais dificuldade para se eleger”, conta Goiris.
O pesquisador vê pontos falhos no argumento de que a
diminuição de cadeiras trará economia aos cofres públicos – discurso levantado
pela maioria dos vereadores favoráveis à redução. “É preciso analisar o que
isso vai representar de diferença no orçamento municipal e se não valeria a
pena ‘gastar um pouco mais’ para se ter uma representatividade maior. É cedo
para dizer, mas no meu ponto de vista, a redução dos custos é pequena e o valor
monetário é inferior ao de representatividade da população”, ressalta.
Fim de coligações reduz
chances de partidos menores
Para o cientista político, o fim das coligações para
vereador pode piorar ainda mais as chances de classes minoritárias elegerem
novos vereadores. No entanto, existe sim um lado positivo na mudança. “Tende a
prejudicar partidos menores, que sozinhos não conseguem votações expressivas. Mas
quem sabe ela possa diminuir o número exagerado de partidos, fazendo com que os
pequenos desapareçam e se aglutinem a legendas maiores e com afinidade
ideológica”, conta. Para Goiris, o fim das eleições evita o fenômeno das ‘legendas
de aluguel’, mas também diminui o pluralismo político.