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Pesquisadores de PG querem identificar soldado morto na 2ª Guerra
O trabalho só está sendo possível, porque em 2012, um pesquisador italiano mapeou o DNA do soldado brasileiro que permanece em solo italiano
Da Redação | 16 de junho de 2021 - 11:13
O trabalho só está sendo possível, porque em 2012, um
pesquisador italiano mapeou o DNA do soldado brasileiro que permanece em solo
italiano
Helton Costa e Diego Antonelli, que pesquisam a participação
do Brasil na Segunda Guerra Mundial e que também são jornalistas, estão
arrecadando dinheiro para a continuidade da pesquisa de identificação do “Soldado
Desconhecido”, único brasileiro morto na Segunda Guerra Mundial que ainda está enterrado
na Itália.
Eles começaram o trabalho no ano passado, com a busca de
referências bibliográficas e documentais sobre quem poderia ser o soldado e,
este ano, acabaram por se defrontar com a possibilidade de ser Fredolino
Chimango, do Rio Grande do Sul. A dupla agora está na fase de comparação de DNA
entre parentes de Chimango e os restos mortais que estão em Pistoia/Itália.
O trabalho só está sendo possível, porque em 2012, um
pesquisador italiano mapeou o DNA do soldado brasileiro que permanece em solo
italiano. Porém, o governo brasileiro não mostrou interesse em prosseguir com a
pesquisa.
Fredolino Chimango servia na 7ª Cia do III Batalhão, do 11º
Regimento de Infantaria. A comparação genética tem o valor de aproximadamente
R$ 2.800,00, incluindo custos de materiais de análise e envio para a Europa.
Para ajudar na vaquinha, basta doar qualquer valor pelo link:
http://vaka.me/2111255 ou pelo PIX 042999111950 (Andressa Beló Costa).
Pesquisadores contam o processo
Conforme Helton e Diego, mesmo que os restos mortais não
sejam de Chimango, a coleta de material genético da família dele é importante,
pois, além do Pracinha desconhecido, há outros onze soldados sem identificação,
enterrados no Aterro do Flamengo, no Monumento aos Mortos da Segunda Guerra
Mundial, no Rio de Janeiro. “Se não for o Chimango quem está na Itália,
significa que ele já se encontra no Brasil e os resultados serão doados para o
Governo Federal, para que tomem as medidas cabíveis. Agora, se for mesmo o
Chimango, caberá à família decidir o que fará em seguida”, explica Helton
Costa.
“É importante termos em mente que é um trabalho de resgate
da memória e de justiça histórica. Alguém que foi tão longe morrer por um ideal
de liberdade, dar a vida pela pátria, não pode ficar sem identificação. É o
mínimo que podemos oferecer e a sociedade pode fazer a parte dela também, por
meio da contribuição para o exame”, acrescenta Diego Antonelli.
O comandante da Força Expedicionária Brasileira (FEB), João
Batista Mascarenhas de Moraes também havia feito uma promessa, durante a
guerra, de que nenhum brasileiro ficaria para trás. Mascarenhas morreu em 1968,
sem ver sua promessa totalmente cumprida.
O achado
O Soldado Desconhecido foi encontrado em 1967, em Montese,
onde em 1945 ocorreu a batalha mais sangrenta para os brasileiros, com mais de
420 baixas em somente três dias. Vinte e dois anos depois, um morador da cidade
procurou o Miguel Pereira, que atuava como guardião do cemitério dos pracinhas
na Itália, na cidade de Pistoia.
O morador contou que na época da guerra ele estava passando
por dificuldades financeiras, que viu o corpo do brasileiro e roubou o relógio,
as botas e outros pertences. Depois cobriu o corpo com escombros e fugiu. O
resultado da ação dele foi que quando o Pelotão de Sepultamento brasileiro
procurou o corpo para recolher, não encontrou mais.
Miguel Pereira foi junto com o homem até o local onde ele
lembrava ter deixado o corpo e, usando uma escavadeira, achou os restos
mortais, duas décadas depois. Dali os ossos do soldado foram para Pistoia,
pois, anos antes os colegas dele que também haviam morrido na guerra, já haviam
sido mandados de volta para casa. O Pracinha sem identificação está sozinho no
antigo cemitério.
Quem pode ser o soldado?
Como dito, ele pode ser Fredolino Chimango. Quem escreveu
que pode ser ele, foi o chefe do Estado–Maior da FEB, coronel Floriano de Lima
Brayner, em 1971 e em 1973.
A pesquisadora curitibana Adriane Piovezan, no livro “Morrer
na guerra: a sociedade diante da morte em combate” (2017), lembra que uma
porção de terra do local onde foi primeiramente sepultado o “Soldado
Desconhecido” – em Montese – foi doada para a sede do 11º Regimento de
Infantaria, em São João del Rei (MG). A entrega ocorreu em cerimonial e o
soldado teria sido identificado como Fredolino Chimango.
Além dos dois, o 3º sargento da Bateria de Comando da
Artilharia Divisionária da FEB, Waldir Merçon, no livro “A minha guerra”
(1985), também é categórico ao apontar que o “desconhecido” se trata de
Fredolino Chimango. O paranaense José Dequech, 2º sargento da Cia de Obuses do
11° Regimento de Infantaria, no livro “Nós estivemos lá” (1985), também aponta
ser Chimango.
Como Chimango teria morrido?
Conforme citação de combate registrada pelo coronel Adhemar
Rivemar de Almeida, na parte de combate do 11º Regimento, Fredolino morreu
tentando ajudar soldados da Companhia vizinha da dele. Escrevendo sobre os atos
dos homens em Montese, Adhemar anotou: “Destaco entre eles o Cabo Fredolino
Chimango, falecido, que com sua peça de metralhadora conseguiu heroicamente
atingir e neutralizar uma casamata alemã que ameaçava seriamente o flanco
esquerdo da 6ª companhia. Apesar da reação do inimigo, o cabo Chimango só
deixou de atirar quando sua arma foi atingida em cheio por uma granada de
artilharia que lhe levou a vida”.
Dos soldados desaparecidos em Montese, conforme o já citado
Lima Brayner, somente um não foi identificado: Fredolino Chimango.
Helton e Diego
Diego Antonelli é mestre em Jornalismo e autor dos livros “Em
domínio russo” (2008), “Paraná: Uma História” (2016) e “Vindas: Memórias da
Imigração” (2018). Já Helton, é doutor em Comunicação e especialista em
Arqueologia e Patrimônio, além de autor de “Confissões do front: soldados do
Mato Grosso do Sul na II Guerra Mundial (2013), Crônicas de sangue: jornalistas
brasileiros na II Guerra Mundial (2019) e “Dias de quartel e guerra: memórias
do Pracinha Mário Novelli (2021). Helton dirigiu e Diego atuou na parte técnica
e de revisão do documentário “V de Vitória: histórias brasileiras”, premiado em
2019 como o melhor trabalho sobre a FEB e melhor documentário, no ‘Militum 2019
– III Festival de Cinema de História Militar’. Juntos, os dois ainda tocam a
página V de Vitória no Facebook (@vdevitoriabr). Helton mora em Ponta Grossa e
Diego em Curitiba, ambas cidades paranaenses.
Legendas:
Foto 1: Os restos mortais do Soldado Desconhecido foram
resgatados em 1967
Foto 2: Fredolino Chimango, que pode ser o soldado
desconhecido
Foto 3: Helton Costa
Foto 4: Diego Antonelli