Editorial
Ame-o ou deixe-o?
É inaceitável, num país que se orgulha de seu regime democrático, presenciar um deputado eleito renunciar a seu mandato por causa de ameaças
Da Redação | 25 de janeiro de 2019 - 01:32
Pode-se até discordar do posicionamento de determinado político.
É possível não concordar com as bandeiras por ele defendidas ou com seu
discurso. É aceitável até mesmo ‘torcer’ para que ele não seja eleito na
próxima disputa e que ele e seu partido percam a representatividade. Agora o
que é inaceitável num país que se orgulha de seu regime democrático é
presenciar um deputado eleito renunciar a seu mandato por causa de ameaças.
É claro que tudo ainda é passível de investigação e os
responsáveis pelas ameaças ao deputado federal Jean Wyllis, do Psol, deverão
ser identificados e punidos. O que preocupa é ver um parlamentar brasileiro ter
que desistir de representar o povo e seus eleitores porque está com medo de sua
integridade física, de sua vida. Essa cenas – inadmissível em qualquer nação
minimamente civilizada – são mais comuns em cenários de ditadura ou de governos
autoritários, como alguns países asiáticos ou da América Central e até mesmo na
Venezuela.
Agora, ver um deputado brasileiro renunciar ao mandato por
causa de ameaças é mais do que revoltante, é preocupante. Não importa o
posicionamento político ou os ideais defendidos: a ameaça a um político é uma
ameaça à democracia como um todo. Já temos um caso de execução de uma vereadora
carioca, do mesmo partido de Wyllis, que foi executada ao lado de seu motorista
– crime que ainda não foi 100% esclarecido pelas autoridades. Além disso, há
mais uma infinidade de casos pelo interior do país de políticos ameaçados,
agredidos e até mortos.
Não importa se seu partido é azul, vermelho, verde ou
amarelo. Antes de mais nada, é fundamental defender a democracia e o direito de
que todo aquele que for escolhido tenha condições de representar seus eleitores.
Qualquer ato que fuja disso deve ser combatido. É a imposição à força de apenas
um lado da moeda. E isso não é democracia.