Debates
A alegria de ser preterido
Da Redação | 28 de julho de 2022 - 02:17
Por Giovani Marino Favero
Quando eu tinha uns doze anos de idade, parado com os pés voltados para dentro, de uma maneira esquisita, recebi uma bronca da minha avó materna: Por quê você está fazendo isso?
Respondi, com um pouco de medo, que tinha o costume, ela falou para eu não fazer mais isso, pois esse era um costume do meu avô.
Essas relações entre gerações as vezes passam despercebidas, e quando aparecem tocam rotineiramente em nós.
Toda vez que olho para a nuca do meu filho, principalmente quando ele corta o cabelo, eu vejo a silhueta do meu pai, que por sinal é igual a do meu irmão mais velho.
Não há um dia sequer que não pense no velho desde a sua morte em 2015. Essa semana recordava com alegria, contando para o meu filho, como era engraçado quando ele batia na porta de casa.
Meus pais moravam a uma quadra de distância dos netos e todos os dias, sem exceção, o vô Luiz passava fazer um agrado ou brincar com eles. Ele tinha o costume de fazer uma seqüência de batidas na porta, que logo, o Giuseppe com seus 2-3 anos já reconhecia.
Era escutar a batida e o netinho saia correndo alegre em direção a porta, recebia o avô com gargalhada de ambos e um abraço demorado. Era um bom momento entre os dois. Eu sentia a alegria de ver a bela relação entre as gerações de pescoço e formato de cabeças iguais.
Rapidamente aprendi a fazer a batida na porta, e, para minha surpresa, quando fiz pela primeira vez a seqüência com os dedos tocando forte na madeira, escutei os passos da pequena figura, acompanhada das gargalhadas. Nunca vou esquecer a cara de decepção ao ver que era o pai e não o avô na porta.
Nunca fiquei tão feliz em ser preterido.
Giovani Marino Favero é Pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação da UEPG