PUBLICIDADE

A falácia da excelência do saneamento em Ponta Grossa

Imagem ilustrativa da imagem A falácia da excelência do saneamento em Ponta Grossa

Por Mário Sérgio de Melo

Ponta Grossa tem sido alardeada, pela Sanepar e pela mídia, como uma das cidades melhor saneadas do país. Ultimamente os jornais da cidade não se cansam de repetir a notícia. Mas um breve exame revela o quanto essa afirmação falta com a verdade.

Em 2015, a Câmara Técnica do Comitê de Bacia do Tibagi, da qual faz parte a Sanepar, propôs a reclassificação de vários rios com base nos critérios de qualidade das águas do Conselho Nacional do Meio ambiente. As reclassificações propostas foram todas no sentido de reconhecer que os rios estavam mais poluídos que na classificação anterior. Entre os rios rebaixados estavam o Pitangui, os arroios Gertrudes e Olarias, todos rios urbanos de Ponta Grossa, para os quais era proposta a classe que qualifica os rios mais poluídos. A proposta de reclassificação de 2015 era um reconhecimento que o controle da poluição dos rios urbanos de Ponta Grossa estava desgovernado.

Em 2017, durante os trabalhos de implantação do Lago de Olarias, parque urbano da cidade, análises da água realizadas pela UEPG mostraram poluição elevada. Os dados foram considerados sigilosos, e não foram divulgados. Mas não é necessário realizar análises; basta visitar hoje as cabeceiras dos arroios urbanos que divergem dos espigões centrais da cidade, para constatar que todos estão muito poluídos, são esgotos a céu aberto.

Então, como é possível que a Sanepar alardeie que Ponta Grossa é uma das cidades melhor saneadas do país? As outras estão afogadas em esgoto? A explicação é outra. É possível que Ponta Grossa seja sim uma das cidades com maior cobertura das redes de água potável e esgoto. Mas só isso não garante que o saneamento esteja funcionando. E quem sofre são os rios, que recebem uma carga de esgotos não contabilizada.

Ponta Grossa é uma cidade muito antiga, principalmente nas edificações ao longo dos espigões centrais. Antigamente, com a população muito menor, os esgotos eram ligados diretamente à rede pluvial, que se destina a captar a água das chuvas, que vai para os rios. E não à rede própria para os efluentes, que vai para as estações de tratamento de esgotos. Mesmo que a rede de esgoto passe na porta da edificação antiga, a descarga continua sendo feita na rede pluvial. Assim, quem acaba recebendo os esgotos das instalações antigas e inadequadas são os arroios urbanos, e não as estações de tratamento. Por esse motivo todos os rios urbanos da cidade continuam poluídos, apesar do crescimento da rede de esgotos.

A remediação do problema demandaria um detalhado e paciente trabalho de teste, edificação por edificação, do correto despejo dos esgotos produzidos na rede apropriada, e não na rede pluvial que leva aos arroios. Um trabalho demorado, custoso, impopular, que por certo não traria votos nem prestígio. Mas deveria, ao final, alcançar a limpeza dos rios de Ponta Grossa e de toda a bacia do Rio Tibagi, devolvendo à população águas que representariam a vitalidade da natureza saudável.

Mário Sérgio de Melo é Geólogo, professor aposentado do Departamento de Geociências da UEPG

PUBLICIDADE
PUBLICIDADE

MAIS DE DEBATES

HORÓSCOPO

PUBLICIDADE
PUBLICIDADE

DESTAQUES

PUBLICIDADE
PUBLICIDADE

MIX

HORÓSCOPO

PUBLICIDADE
PUBLICIDADE