Debates
O aborto e as eleições
Da Redação | 13 de abril de 2022 - 00:44
Por Aldenor Gomes de Mesquita
A questão do aborto, bem como outras pautas morais serão
fartamente usadas durante a campanha eleitoral deste ano no meio evangélico.
Dentre os pastores que o apoiam, o bispo Edir Macedo causou polêmica, anos atrás,
ao defender o aborto como método de planejamento familiar.
Pelo amor de Deus! Quem em sã consciência seria a favor do
aborto? Só um ser desprovido de sentimento seria a favor que se interrompesse a
gestação de um ser indefeso. Mas, quem em sã consciência seria a favor de que
mulheres pobres, desesperadas, vítimas de estupro, fossem penalizadas por não
quererem dar prosseguimento a uma gravidez? Quem em são consciência preferiria
que tais mulheres morressem em clínicas clandestinas ou fossem tratadas como
criminosas?
Não é preciso ser a favor do aborto para admitir que sua
criminalização só faz aumentar o lucro dos carniceiros que agem no desespero de
muitas meninas. Se uma delas me procura em busca de ajuda, meu conselho é que
não aborte. Mas, caso o faça, não serei eu a condená-la. Além da morte de um
ser que não tem culpa de vir ao mundo, o aborto é uma agressão ao corpo da
mulher e deixa sequelas, sobretudo, emocionais, dentre as quais, a síndrome
pós-abortiva.
A recente decisão do STF que descriminaliza o aborto até a
12.ª semana de gravidez está pautada em argumentos sobre os quais precisamos
refletir antes de sair por aí emitindo opiniões ou simplesmente nos omitindo.
Os atributos que nos caracterizam como humanos não são ter
um rim funcionando, nem um coração batendo, mas ter um cérebro em atividade.
Isto é razoavelmente estabelecido porque é a morte cerebral considerada o
critério para dizer quando uma pessoa morreu, e não a falência de outros
órgãos. Se a morte do cérebro é o critério médico que o Estado aceita para
considerar o indivíduo humano como morto, o início do cérebro deveria ser o
critério para considerar o início do indivíduo, e não a fecundação. O cérebro
não tem sua arquitetura básica formada no mínimo até o terceiro mês da
gestação. Isso significa que o embrião não percebe o mundo, não tem
consciência, é um conjunto de células como qualquer pedaço de pele. Partindo
desta premissa, podemos inferir que não é moralmente condenável que as mães
tenham direito de escolher não continuar a gestação antes deste período.
Argumentar que o embrião tem o potencial de dar origem a um
ser humano não vale, pois seria como tentar proteger os óvulos que se perdem
logo antes das menstruações em todas as mulheres, ou os espermatozoides que são
descartados na masturbação masculina, na polução noturna ou no coito
interrompido. Além disso, hoje a ciência sabe que toda célula humana, até as
células da pele, tem o potencial de dar origem a um ser humano inteiro,
bastando para isso alguns procedimentos de clonagem.
O que a Bíblia diz sobre o odioso procedimento? Haveria
algum mandamento específico acerca do aborto? Ou deveríamos incluí-lo no
"não matarás"? O que você acharia de uma lei que penalizasse com a
morte a quem matasse uma grávida, mas aplicasse apenas uma multa a quem
provocasse um aborto? Seria a vida da mãe mais valiosa do que a do feto? Pois é
justamente isso que diz o único mandamento bíblico sobre o aborto.
Em Êxodo 21:22-23 lemos que se alguns homens pelejarem
"e um ferir uma mulher grávida, e for causa de que aborte, porém não
havendo outro dano, certamente será multado, conforme o que lhe impuser o
marido da mulher e julgarem os juízes. Mas se houver morte, então darás vida
por vida." Repare nisso: por mais embaraçoso que isso nos soe, o aborto é
tratado como dano cuja penalidade não passa de uma multa. A única morte
considerada no texto é a da mãe.
Aldenor Gomes de Mesquita é Pastor consagrado desde 2000, Mestre
em Química Orgânica, Professor de química, Teólogo, Escritor e Pastor
presidente da Igreja Cristã Nova Aliança