Debates
Guerra híbrida nas eleições: uma realidade brasileira?
Da Redação | 07 de janeiro de 2022 - 00:46
Por Marcelo Aith
Guerra híbrida é uma estratégia militar que mescla táticas
de guerra política, guerra convencional, guerra irregular e ciberguerra com
outros métodos não ortodoxos, como a desinformação, lawfare e a intervenção
eleitoral externa (disparos em massa por robôs é um exemplo desse último).
A expressão guerra híbrida está presente em três obras
contemporâneas que li entre o final do ano passado e o começo de 2022:
Geopolítica da Intervenção - A verdadeira história da Lava Jato”, de autoria do
excelente criminalista Fernando Augusto Fernandes; “Minha especialidade é
matar”, do filósofo Henry Bugalho; e “Enxame”, do jornalista e advogado Marcos
Limão.
A “guerra híbrida” se desenvolve em duas etapas: a primeira,
conhecida como “Revolução Colorida” e a segunda, denominada de “Guerra não
convencional”.
O que importa e interliga os três livros citados acima é a
primeira etapa, ou seja, a “Revolução Colorida”. O termo “colorida” tem a ver
com a utilização de cores para notabilizar e simbolizar o movimento, como a
utilização do verde e amarelo, entre 2015 e 2018, que resultou no impeachment dá
Presidente Dilma e na eleição de Bolsonaro.
Marcos Limão aponta que a “Revolução Colorida” representa a
“versão não violenta da intervenção militar e consubstancia-se na companha
informacional (ofensiva cognitiva) que visa desestabilizar a ordem política,
colocando a população contra o governo e os centros de poder”.
A gênese da ruptura que resultou na eleição de Bolsonaro, um
político do baixo clero, ligado ao regime militar e idólatra de torturadores,
foi a “guerra híbrida” retratada com maestria no livro “Geopolítica da
Intervenção”. A Lava Jato, comandada por Sérgio Moro e os meninos da
procuradoria da república de Curitiba, utilizou a torto e a direito a
desinformação e o lawfare, com o propósito firme de deslegitimar o governo
Dilma e possibilitar a ruptura política.
Dois episódios são evidentes dessa prática: a divulgação
ilegal e seletiva da conversa interceptada entre a Presidente Dilma e o
ex-presidente e a divulgação de trechos da delação de Palocci. A primeira
culminou no impeachment de Dilma e o segundo na vitória de Bolsonaro, pois em
ambos os casos foi gerado um sentimento de repulsa ao PT. Mas isso só foi
possível pela utilização de disparos em massa das informações falsas, que
alcançaram alvos (pessoas) vulneráveis e suscetíveis a serem manipulados.
Na obra “Minha especialidade é matar”, título extraído de uma fala de Bolsonaro, Henry Bugalho descreve com maestria o comportamento da extrema-direita brasileira. Os textos, originalmente publicados na Folha de São Paulo e na revista Carta Capital, deixam claras as estratégias de manipulação da informação do “exército bolsonarista”.
São criadas mensagens, como regra, com conteúdo falso ou
deturpado, e disparadas nos milhares de grupos formados por pessoas cooptadas
na internet e que comungam da mesma ideologia. Por serem pessoas vulneráveis e
suscetíveis ao discurso disruptiva, a mensagem consegue alcançar o perigoso
“consenso”, primeiro passo para uma grande revolta, tal como ocorrem nas
guerras religiosas (por exemplo, utilização de homens-bomba).
Uma amostra clara do poder de manipulação do exército
bolsonarista ocorreu no dia 7 de setembro de 2021. Nessa oportunidade Brasília
foi literalmente invadida por cegos apoiadores do governo Bolsonaro, que tinham
o firme propósito de romper com as instituições de estado. Essa gigantesca
manifestação de apoio aos ideias extremistas de Bolsonaro, que tinha como
objetivo a invasão do STF e do Congresso Nacional, foi totalmente planejada e
posta em prática nos grupos de WhatsApp e Telegram. Pessoas do Brasil inteiro
se deslocaram em caravanas para colocarem em prática a intenção de aniquilar
com o regime democrático brasileiro.
O poder do exército bolsonarista não pode ser subjugado,
especialmente em um ano de eleições presidenciais, que caminham a passos largos
para a derrota governista. Serão postas em prática táticas de guerra híbrida
extremamente agressivas, muitas mentiras e destruição de reputações
acontecerão. Será que a justiça eleitoral estará preparada para coibir esses
abusos? Teremos eleições limpas ou recheadas de fake news? Oxalá tenhamos um
certame em que a democracia vença e o Brasil retome seu ciclo de crescimento e
respeito internacional!
*Marcelo Aith é advogado, Latin Legum Magister (LL.M) em
Direito Penal Econômico pelo Instituto Brasileiro de Ensino e Pesquisa – IDP,
especialista em Blanqueo de Capitales pela Universidade de Salamanca e
professor convidado da Escola Paulista de Direito